Cobertura

De volta ao Mato Grosso do Sul

Depois de ir ao Festival América do Sul Pantanal, em maio, nossa reportagem viaja ao Festival de Inverno de Bonito para acompanhar um evento que prima pela cidadania cultural em sua 19ª edição

TEXTO ERIKA MUNIZ*

24 de Julho de 2018

Um das atrações do festival, Milton Nascimento tem estreita relação com indígenas do Mato Grosso do Sul

Um das atrações do festival, Milton Nascimento tem estreita relação com indígenas do Mato Grosso do Sul

Foto Governo do MS/Divulgação

Se a palavra que entrelaça o Festival América do Sul Pantanal, em Corumbá, é fronteira, a do Festival de Inverno de Bonito (MS) é sustentabilidade. Não é para menos, estamos falando de um dos principais destinos de ecoturismo do mundo, graças a, entre outras belezas, seus mananciais azul-turquesa, suas cavernas e espeleologia profundas. Todo último fim de semana do mês de julho, a cidade sul-mato-grossense se prepara para receber esse evento, que chega à 19ª edição com 140 atrações distribuídas ao longo dos quatro dias. Continuar conhecendo mais um pouco desta vastidão que é o Mato Grosso do Sul, através do convite do FIB, é, para a revista Continente, seguir descobrindo mais desse estado – e deste país.

A programação do Festival de Inverno de Bonito, que acompanharemos entre os dias 26 e 29 de julho, é potente no tocante à diversidade de gêneros musicais, manifestações culturais e de várias origens, o que reitera a proposta já apresentada no Fasp, em maio deste ano. A seleção das atrações contempla artes visuais, música, artes cênicas, cinema, artesanato, gastronomia e literatura e acontece mediante edital. No entanto, segundo o secretário de Cultura e Cidadania do estado Athayde Nery, as contribuições populares se deram a partir do contato com os fóruns culturais.

A Serra da Bodoquena (região onde se localiza o município de Bonito), apesar de ser uma região um pouco menos fronteiriça que a do Pantanal, não deixa a desejar em relação à tamanha multiplicidade étnica, tampouco quanto ao intercâmbio cultural com outros povos das divisas. “Neste estado, a diversidade é a sua identidade, uma identidade plural”, defende Athayde, falando deste Mato Grosso do Sul, terra de, pelo menos, sete etnias de povos originários – guarani-kaiowá, terena, kadiwéu, guató, ofayé, kinikinawa e atikum.

Nesse cenário, num ínterim considerado como baixa estação pelo ecoturismo, devido ao inverno, algumas atrações naturais encontram-se impossibilitadas de receberem visitas. Com o festival, é possível manter o fluxo de turistas interessados em curtir o evento, que aqui parece ter mais um sentido de cidadania cultural do que de entretenimento.

A sustentabilidade, que norteia o FIB, direciona o evento para questões acerca da escassez de água, tema bastante caro à contemporaneidade e a uma cidade como Bonito. Seus recursos hídricos, aliás, elevam o turismo como um dos pontos mais fortes da economia local. “Além das atrações, o festival tem que trazer valores. ‘O contrário de insegurança é a convivência’, disse o colombiano Jorge Melguizo lá em Corumbá, este ano. Então, quanto mais convivência, mais a gente vai construir. Ocupar os espaços públicos é também se encontrar”, afirma Athayde, lembrando da Praça da Liberdade, um dos pontos turísticos da cidade, onde se localiza o palco principal.

Entre as atrações da praça, está o mestre Milton Nascimento, que vai apresentar ao público bonitense seu show Semente da Terra, no sábado (28/7), a partir das 21h30. São canções clássicas deste artista nascido carioca, criado em Minas, que trazem um posicionamento político contundente acerca do racismo, de questões trabalhistas e das lutas indígenas, o que dialoga com reivindicações da população local. Desde o ano passado, segundo a Secretaria de Cultura e Cidadania, duas importantes mostras têm tido bastante destaque para os habitantes de Bonito no festival. Uma é a Canta Bonito, no qual os artistas locais se apresentam na quinta (26/7), às 21h30, no palco principal. A segunda é a mostra gastronômica em que vários restaurantes participam com comidas tradicionais da região.

Nesta mesma época do ano, o agreste pernambucano está recebendo o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG). É possível perceber algumas semelhanças com o FIB, a exemplo do friozinho, a distribuição em palcos descentralizados, as inscrições via edital. Em Bonito, mediante tanta beleza que esse estado proporciona, seguiremos na travessia, através das artes e do encontro que um festival como este exalta. Afinal, (re)descobrir o outro, aprender mais sobre o Brasil e sua diversidade, é, na verdade, nos alargar e aprender mais sobre nós mesmos.

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Programação completa AQUI.

*A repórter viaja a Bonito a convite da Secretaria de Cultura e Cidadania do Governo do Mato Grosso do Sul

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