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O Brasil de Bob Dylan

Exposição na Dinamarca mostra como o cantor enxerga as contradições do nosso país

TEXTO Dora Amorim

01 de Outubro de 2010

A cena é de um crime em favela carioca, mas o clima evocado é de filme noir

A cena é de um crime em favela carioca, mas o clima evocado é de filme noir

Imagem Reprodução

Bob Dylan afirmou, mais de uma vez, admirar o Brasil. Além de palavras, sua empatia ganhou formas figurativas numa série de pinturas, que está sendo apresentada agora aos dinamarqueses, na exposição The Brazil series. Nela, o compositor e cantor norte-americano retrata o Brasil que é considerado “exótico” aos olhos estrangeiros. Hoje, com 69 anos, Dylan não se acomoda à fama de ter sido o incendiário a revolucionar a cena musical norte-americana nos anos 1960. Ele continua a compor e a se apresentar em shows regulares, sobretudo em Nova York, onde mora, enquanto se dedica também à pintura, como atesta essa exposição.

The Brazil series foi realizada por um convite feito ao cantor pela National Gallery of Denmark, tendo sido aberta em setembro e permanecendo em cartaz até 30 de janeiro de 2011. Bob Dylan produz desenhos e gravuras há décadas e teve seu trabalho exposto, pela primeira vez, em 2007, no Museu de Chemnitz, na Alemanha, com a série The drawn blank series.

Ele esteve no Brasil em 1990, 1991 e1998, para apresentações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em seu programa de rádio (Theme time radio hour), tentou fazer uma homenagem à música brasileira que conheceu, mas acabou dando uma declaração simplória, ainda que tenha ressalvado ser este um “país lindo”. O Brasil, para ele, é “o gigante da América Latina, onde não se fala espanhol e, sim, português”. A troca dos idiomas entre alguns estrangeiros reafirma a imagem estereotipada do país, na qual são colocados no mesmo nível – carnaval, futebol, samba, mulatas, corrupção pública e privada, turismo sexual, e, mais recentemente, turismo em favelas. Aqueles que conseguem transcender esses primeros passos encontram mais uma “coisinha” ou outra por aqui. E quanto a Dylan, que imagem do Brasil ele leva à Dinamarca?


Bob Dylan retrata a rua, na Bahia, e seus personagens nas primeiras horas
da noite. Imagem: Reprodução

Como qualquer estrangeiro, impressionado com a arquitetura dos morros, Dylan pintou as favelas cariocas em cores vivas, assim como belas mulheres com vestidos curtos e grandes decotes. Retratou a cena de um crime, numa atmosfera retrô e sombria de filme noir, a fachada de uma igreja da Bahia, um recorte de quarto de hotel, uma plantação de uvas. São as impressões de olhos atentos, embora essa visão não tenha ido além das bordas.

Poucos questionam a genialidade de Dylan na música, entretanto seu trabalho como pintor vem recebendo críticas severas. Até agora, a exposição foi bastante questionada pela imprensa dinamarquesa especializada. Independentemente das possíves qualidades dessa série, o que parece interessante do ponto de vista local é: por que o Brasil?

The Brazil series foi produzida em 15 meses e resultou em 40 pinturas em acrílico sobre tela e oito desenhos. Até agora, nenhuma instituição nacional mostrou interesse em trazer a individual ao Brasil. 

DORA AMORIM, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.

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