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Paulo Meira

O marco amador

TEXTO Mariana Oliveira

01 de Novembro de 2010

A fotomontagem 'A perder de vista' transporta os mesmos personagens para cenários transnacionais

A fotomontagem 'A perder de vista' transporta os mesmos personagens para cenários transnacionais

Foto Rodrigo Link

Desde 2004, Paulo Meira vem se dedicando à pesquisa intitulada O marco amador. O artista norteia sua investigação pela construção de universos plásticos e conceituais, nos quais acontecimentos (um marco) são explorados ética, estética e politicamente. Nesses trabalhos, os personagens criados pelo artista se aventuram por situações desafiadoras. Quatro séries já foram produzidas dentro da pesquisa, compostas por obras em diversas linguagens – vídeos, videoinstalações, pinturas, fotografias, textos.


A série 15 minutos no jardim de Alice Coelho é o mais recente trabalho da pesquisa.
Foto: Francisco Baccard


Foto: Francisco Baccard

O artista utiliza o termo marco para designar o que chama de “acontecimentos paradigmáticos”. Cada um deles expressaria um conjunto de fatos anteriores e posteriores a ele. “Os marcos podem ser entendidos como pequenas oscilações que podem mover o mundo, invisivelmente, por isso uso outro termo ao lado da palavra marco. Com amador, proponho um agir que exercite o zelo sobre as coisas do mundo”, explica. Os elementos circenses marcam forte presença nos universos criados e habitados pelos personagens da pesquisa.


Nas séries Las outras e Cursos, destacam-se os personagens
circenses. Foto: Lis Donovan


Foto: Rodrigo Link

Na série Las outras, dois personagens compõem o acontecimento paradigmático e surreal. No vídeo, uma anã contracena com o artista, que balança como um pêndulo içado pela própria carne a um cabo de aço. Em Cursos, o artista, de olhos vendados, divide a cena com uma palhaça. Como num road movie, os dois personagens percorrem diversas paisagens, todas rondadas pela iminência de perigo. A série remete às brincadeiras de quebra-panela e cabra-cega, cabendo à palhaça – que fala em italiano – orientar os passos do artista vendado. A palhaça ressurge em pinturas que reproduzem supostos certificados de cursos, hiperampliados – nos quais não são indicados o curso concluído ou o candidato.


Na série A perder de vista, o artista também cria papéis e envelopes hiper-reais.
Imagem: Reprodução

A perder de vista é composta, assim como as outras séries, por trabalhos em suportes variados. Num deles, um vídeo, Meira sustenta uma mulher sobre seus ombros, com uma hélice na mão. Em sincronia com esse giro, surge uma coleção de imagens do trio (o homem, a mulher e a hélice), fotografado em diversas paisagens dos cinco continentes. A exemplo de Cursos, essa série também é composta por um conjunto de pinturas: envelopes e papéis hiper-realisticamente concebidos.


Os personagens do vídeo Cursos ressurgem em pinturas de supostos certificados.
Imagem: Reprodução



Imagem: Reprodução


Imagem: Reprodução

O trabalho mais recente da pesquisa é 15 minutos no jardim de Alice Coelho. A personagem principal deste marco é uma mulher barbada. Ela é teletransportada para vários locais por um mágico, num universo em que reina uma pequena galeria de personagens estranhos (mulher barbada, mágico, equino autômato, uma modelo de um atirador de facas...). “Envoltos numa atmosfera de paixão, morte, fatalidade, repugnância diante de aberrações, esses personagens vivem uma série de acontecimentos que suscitam questões presentes na multiplicidade corpórea do homem contemporâneo”, descreve Meira, que mais uma vez surge como idealizador e ator de sua obra. 

MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.

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