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Riso: Um personagem de todas as épocas

Quem disse que a vida do riso é só alegria? Entronizado no mundo de hoje, ele foi muito reprimido ao longo dos tempos, chegando mesmo a ser associado ao “pecado capital"

TEXTO Gilson Oliveira

01 de Julho de 2011

Ilustração Laerte Silvino

"Sorria, você está sendo filmado."

Presente no dia a dia brasileiro, às vezes, nos mais insuspeitados lugares, essa frase, em sua essência, é a cara do mundo de hoje – a “sociedade humorística”. Não importa se a verdadeira mensagem da frase seja: “Todos os seus passos estão sendo registrados e, se você aprontar, temos provas para incriminá-lo”. Também não tem relevância, para o alvo das filmagens, ser visto como um transgressor em potencial ou se a sua privacidade é cada vez mais invadida pela tecnologia. O importante é que tudo seja dito de forma leve, engraçada. Nada mais sério que o riso.

Dado à luz pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, no livro A era do vazio, o conceito de “sociedade humorística” é dos mais mais fáceis de ser comprovado, bastando, para isso, um instrumental chamado olhos e ouvidos. O humor está em toda parte e em mais alguns lugares. É facilmente encontrado no jornal, na TV, na internet, no futebol, nos celulares, na música, na publicidade, na Igreja (que, ao longo dos séculos, foi marcada pela seriedade) e no cinema.

Considerado eficiente instrumento para a aproximação dos seres humanos – “O riso é a menor distância entre duas pessoas”, disse o humorista dinamarquês Victor Borge – e louvado por suas virtudes terapêuticas, o humor vem ganhando representações em todo o mundo. Caso da francesa Corhum e dos Clubes do Riso, hoje com mais de 1.300 unidades apenas na Índia, onde o primeiro surgiu em 1995, fundado pelo Dr. Madan Kataria, também criador da Yoga do Riso. Igualmente grande é o número de eventos ligados ao humor, como o Dia Internacional do Riso (18 de janeiro), o Dia Mundial do Riso (primeiro domingo de maio) e o Dia Internacional da Diversão no Trabalho (1º de abril).

No Brasil, onde existe o Dia Nacional do Riso (6 de novembro), o humor também vem adquirindo caráter associativo, com a criação de entidades que realizam cursos, palestras e outras atividades a ele relacionadas. É o caso do Clube do Riso Feliz (SP) e do Clube da Gargalhada do Brasil (MG), que, em 2009, promoveu o 1º Campeonato Nacional da Gargalhada. Muitos outros eventos do gênero vêm sendo realizados em solo brasileiro. Um exemplo foi Risadaria – Muito além da piada, realizado em março deste ano, em São Paulo. Com curadoria de Marcelo Tas (CQC) e Marcelo Madureira (Casseta & Planeta), o evento discutiu a relação do riso com a saúde, exibiu filmes de artistas como Mazzaropi e colocou no palco figuras e grupos como Paulo Caruso, Danilo Gentili e Doutores da Alegria.


O programa TV Pirata usava o politicamente incorreto. Foto: Reprodução

O humor, no entanto, não precisa de palco para se manifestar. Costuma ser produzido, consciente ou inconscientemente, em todos os espaços e tempos. Uma insuperável fonte de riso são as redações dos vestibulares, em que podem ser colhidas pérolas do tipo: “O Brasil é um país abastardo com um futuro promissório” e “A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu”.

Mas, mesmo conhecido como o “país da piada pronta”, o Brasil, quem diria, não chega nem ao 10º lugar no ranking mundial do riso. Pesquisa realizada em vários continentes revelou que os países e blocos com mais senso de humor são: Canadá (10º lugar), EUA (9º), Nova Zelândia (8º), Noruega (7º), Reino Unido (6º), Finlândia (5º), Austrália (4º), Bélgica (3º), França (2º) e Alemanha (1º).

IDADE MÍDIA
A televisão ainda é um dos espaços em que o humor mais apela para o inusitado e o bizarro, com atrações que parecem encomendadas à Idade Média, época em que o riso e o grotesco andavam de mãos dadas. Às vezes inspirados em fórmulas criadas em países ditos de “primeiro mundo”, os programas da “idade mídia” costumam desfilar figuras que “topam tudo por dinheiro” e se submetem a qualquer coisa por “15 minutos de glória”, seja descascando coco com os dentes ou carregando um jumento nas costas. Por que as pessoas riem disso? Uma das explicações dadas pelos psicólogos é que, além de estimular a porção sádica que existe em todo mundo, assistir ao constrangimento e à humilhação de alguém faz com que nos achemos superiores.

Claro que muitos reagem negativamente ao humor que explora a ignorância ou outro tipo de deficiência. Em abril deste ano, a MTV sentiu isso na pele, ao exibir o quadro Casa dos autistas (paródia do reality show Casa dos artistas), o que indignou o Movimento Pró-Autista e provocou ameaça de investigação pelo Ministério Público, levando a emissora a se retratar publicamente. O episódio foi tema de matéria publicada na Folha de S.Paulo, com o título Para comediantes, não há tabu no humor, em que foram entrevistados atores, apresentadores e roteiristas que trabalham com o riso. A ideia era saber se existe, na área, “um território sagrado onde jamais se possa pisar”.

Um dos entrevistados, o ator Ney Latorraca, integrante do programa TV Pirata, nos anos 1980, disse que já fez piada com negros, mas acredita que esse tipo de humor só poderia existir naquela época. “O país havia ficado tanto tempo diminuído pela ditadura, que, quando a liberdade explodiu, podia tudo. Hoje, se você fala mal de uma árvore, todas as árvores se reúnem para reclamar. As pessoas estão mais atentas.” Também ouvido pela Folha, Miguel Falabella, criador de programas como Sai de baixo, da TV Globo, afirmou que a “base do humor é o politicamente incorreto”.
 
O Dr. Madan Kataria fundou o primeiro Clube do Riso da Índia, em 1995. Hoje, são mais de 1.300 unidades no país. Foto: Divulgação

PRODUTO DE CONSUMO
Independentemente de estilos politicamente corretos ou incorretos, o humor, no mundo atual, “está em perigo, vítima de seu sucesso”, diz o historiador francês Georges Minois, autor de História do riso e do escárnio, acrescentando que o riso “é um produto de consumo. (...) Resta saber se esse riso comercializado não corre o risco de matar o verdadeiro riso, o riso livre. Rir de tudo é conformar-se com tudo, se tudo é risível, o riso perde a sua força”. O escritor francês Stéphane Audeguy não faz por menos: “Atrás de toda essa excitação, há o tédio que espera, embuçado... e, atrás da ‘festa maníaca’, a crise depressiva espreita”. Outro representante das letras francesas, E. Cioran, é ainda mais negativista: “Algumas gerações mais e o riso estará reservado a iniciados e será tão impraticável quanto o êxtase”.

Uma coisa é certa: a relação da economia com o riso é cada vez mais estreita, e não apenas devido aos milhões e milhões de reais, dólares e euros que o humorismo gera anualmente para a indústria cultural. O livro-clipping A essência do riso traz uma série de informações e curiosidades sobre a exploração do humor por empresas de várias partes do mundo. “Em 1996, a Elma Chips reuniu seus 300 vendedores da capital paulista num circo, para a apresentação de um novo produto. Os cinco gerentes das divisões estavam fantasiados de palhaços.” Ou: “Na americana Sun Microsystems, o tempo que o candidato a um emprego demora para demonstrar o seu senso de humor é um dos itens considerados na hora da contratação”.

Autor dos livros Os chistes e a sua relação com o inconsciente (1905) e O humor (1927), Freud considerava o riso uma das mais altas manifestações psíquicas, ajudando o homem a enfrentar as adversidades. Fora o mestre vienense, muitos outros pensadores estudaram o humor no século 20, assim como aconteceu nos séculos anteriores. Caso do filósofo Henri Bergson. Para ele, o riso é um rompimento com o lado mecânico, automático, que marca a vida em sociedade. O filósofo também afirmava que não existe o cômico fora do humano. Uma paisagem pode ser bela ou feia, mas nunca risível.

Um pensador atual que se destacou analisando o humor foi o norte-americano Robert Provine, autor de Risada: Uma investigação científica, livro que traz um dos mais intrigantes exemplos do quanto o riso é contagiante. O caso aconteceu em 1962, em uma escola da Tanzânia, onde três meninas começaram a rir sem parar e logo as gargalhadas tomaram conta das demais alunas. A “epidemia de riso” se espalhou por várias cidades e só foi debelada dois anos depois. Resultante de longa pesquisa, a obra também revela, entre outras coisas, que as mulheres riem mais que os homens.

RIMBAUD FUMISTA
Um pensamento pode ocorrer a quem ler sobre o humor na França, no final do século 19: o pessoal que produziu Casa dos autistas , da MTV, foi “lírico”, se comparado, por exemplo, aos humoristas de um movimento denominado “fumismo”, cujos integrantes eram vistos como “cômicos do absurdo” e “niilistas do burlesco”, por zombarem de tudo e de todos. O nome do movimento foi registrado no (sério) dicionário Litré, levando poetas como Rimbaud e Mallarmé, autores de obras delirantes, a serem rotulados de “fumistas”.


Caricatura de Leonardo da Vinci, que se aproveitou dos avanços da tipografia para difundir sátiras imagéticas. Imagem: Reprodução

Mal Paris se livrou dos fumistas, zutistas e de outros movimentos de espírito anarquista, foi abalada pelo humor negro, que tinha como expoente o poeta André Breton, o “pai do Surrealismo”, movimento inspirado nas ideias de Freud. Breton, que considerava o riso “uma revolta superior do espírito”, foi o organizador da Antologia do humor negro, escrevendo no prefácio da obra: “Não há nada que um humor inteligente não possa tansformar em gargalhadas, até mesmo o nada...”.

Se é verdade que, em termos de liberdade e ousadia, os fumistas dão de goleada nos mais polêmicos programas do Brasil de hoje, o mesmo pode-se dizer dos antigos gregos em relação aos porras-loucas franceses. Considerado por Georges Minois um “sexto sentido que não é menos útil que os outros”, o humor na Grécia Antiga não estava apenas no centro das várias atividades da sociedade: os deuses também riam, e muito, nem sempre de forma digna. Na Ilíada, diz Homero: “Eles caem uns em cima dos outros com grande estrépito; a vasta Terra treme; em volta, o grande céu faz soar as trombetas. Zeus os escuta, sentado no Olimpo, e seu coração ri de alegria quando ele vê os deuses entrarem nessa briga”.

Analisando esse riso, Minois diz que “é sem entraves: violência, deformidades e sexualidade desencadeiam crises que não têm nenhuma consideração moral ou decoro. Os mitos o associam frequentemente à obscenidade e ao retorno da vida”. O autor de História do riso e do escárnio enfatiza que o humor “é a marca da vida divina, como testemunham numerosas histórias gregas de estátuas de deuses subitamente animadas por uma gargalhada”.

As festas populares seguiam uma liberdade semelhante à dos deuses. Numa delas, conhecida como Krônia, os escravos se envolviam em zombarias e brincadeiras obscenas e podiam até fazer-se servir pelos senhores, que eles repreendiam. Minois observa que o “caos é indispensável para representar, em seguida, a criação da ordem. Durante essas desordens, em que o riso é livre, escolhe-se um personagem que preside e encarna esses caos, um prisioneiro ou um escravo que vai ser sacrificado no fim da festa, para um ato refundador da regra, da ordem”.

Mas, no fim do século 5 a. C., na Grécia, o riso começa a ser percebido como prejudicial aos valores cívicos. Entre os inimigos do humor sem freios estavam Platão e Aristóteles, pioneiros também no estudo do fenômeno do riso, tendo, este último, escrito uma frase famosa: “O homem é o único animal que ri”. O combate, no entanto, não impediu que surgissem muitas coleções de blagues, sofregamente lidas. As investidas dos grandes filósofos não impediram o aparecimento de Diógenes, “o cínico”, um dos maiores gozadores de todos os tempos. Um “xará” seu, o historiador Diógenes Laércio, conta que, certa vez, ele estava comendo num lugar público quando um desafeto, querendo significar que ele era um cão, atirou-lhe um osso. Diógenes não teve dúvidas, e, como se fosse mesmo um cachorro, urinou na perna do adversário.


As Saturnais, festas em homenagem a Saturno, eram regadas a risos, grosserias e obscenidades. Imagem: Reprodução

RISO ROMANO
“Os latinos não são mais sérios que os outros. Isso é uma mentira histórica. Foram os historiadores e os pedagogos que construíram e transmitiram essa imagem durante séculos: de uma imponente romanidade grave, heroica, solene, estoica”, diz Minois. A verdade é que o riso está presente em todo o mundo romano, principalmente nas brincadeiras do povão, herdeiras do espírito grego. Bom exemplo são as saturnais, em honra de Saturno, cujo reino, segundo os mitos, foi a Idade de Ouro.

A alegria pelo retorno periódico das saturnais manifesta-se pelo riso, acompanhado por grosserias e obscenidades. As festas duravam uma semana ou mais e, como eram uma volta ao passado, tudo ocorria ao contrário: tochas e lanternas só eram acendidas durante o dia, homens vestiam-se de mulher... Roma também produziu um grande estudioso do humor, Cícero, o qual já ressaltava que “os trabalhos sobre o riso eram muito enfadonhos”. Isso porque as abordagens filosóficas em geral megulham no “academiquês”.

JESUS SÉRIO
No capítulo Diabolização do riso na Alta Idade Média, do seu já citado livro, Georges Minois fala das origens do pensamento segundo o qual o riso tem a ver com o “pecado original”. De acordo com o historiador, tudo começa com Adão e Eva, que, por viverem no jardim do Éden, serem perfeitos, eternamente jovens e belos, não tinham motivos para rir. “Contudo”, afirma, “eis que o Maligno se envolve. Porque é ele, dizem-nos os exegetas, que se esconde sob os traços da serpente bem-falante que tantos filósofos escarnecem. O pecado original é cometido, tudo se desequilibra, e o riso aparece: o Diabo é responsável por isso. Essa paternidade tem sérias consequências: o riso é ligado à imperfeição, à corrupção, ao fato de que as criaturas sejam decaídas”.

Fiéis a esse princípio, os primeiros cristãos, como São Pedro e São Paulo, sempre trataram o riso como algo diabólico. O mais radical adversário foi São João Crisóstomo, que dizia: “Vós que rides, dizei-me: onde haveis visto que Jesus Cristo vos tenha dado o exemplo?”. A Idade Média foi profundamente estudada, sob a perspectiva do riso, por Mikhail Bakhtin. No livro A cultura popular na Idade Média e no Renascimento - o contexto de François Rabelais, o linguista russo diz que o humor se manifestava principalmente no Carnaval e zombava-se de tudo que provocasse medo, como a morte. Uma das fantasias mais emblemáticas era a da Velha Grávida. Sempre sorridente, ela fazia a fusão da velhice (etapa final da existência) com o nascimento (gravidez).

BOBO DA CORTE
Considerada “Idade das Trevas”, a Idade Média foi veementemente rejeitada na Renascença, sendo o riso popular uma das formas de ruptura. À época, também, o humor chegou à grande literatura, através de figuras como Cervantes, Shakespeare e Erasmo de Rotterdan, e a caricaturra – que tinha em Leonardo da Vinci um grande cultor – desfrutou de grande difusão, embalada pela evolução da tipografia, inventada por Gutenberg.


Segundo George Minois, por viverem no Jardim do Éden e serem
perfeitos, Adão e Eva não teriam motivos para rir.
Imagem: Reprodução/Tiziano Vecellio/
Adão e Eva

Nesse período, o Bobo da Corte protagoniza uma das mais expressivas chegadas do humorismo ao poder. Já não se trata de um simples palhaço, pois o riso que provoca é cheio de verdades, algo que faltava ao rei, sempre cercado de bajulações e mentiras. O historiador Maurice Lever assim explica a situação: “As relações do rei e seu bobo repousam, definitivamente, nessa convenção unanimemente aceita: o bobo dá o espetáculo da alienação e adquire, a esse preço, o direito à palavra livre. Em outros termos, a verdade só se faz tolerar quando empresta a máscara da loucura... E, se a verdade passa pela loucura, passa, necessariamente, pelo riso”.

MAL-HUMORADOS
Tempo de Voltaire, uma das mais engraçadas e ferinas línguas da história, o século 18 foi também a época de Bossuet, bispo e teólogo francês e grande inimigo do riso, o que o fazia nutrir verdadeiro ódio pelo comediógrafo Molière. Autor do livro Política tirada das Santas Escrituras, em que desenvolve a doutrina do direito divino dos reis, Bossuet escreveu várias frases de grande repercussão, como: “Jesus assumiu nossas lágrimas (…) e até nossas fraquezas, mas não assumiu nossas alegrias nem nossos risos. (…) que seriam uma indecência para um Deus feito homem”.

O século 19, apesar dos avanços científicos – ou principalmente por eles –, marca novos e fortes desencontros entre o humor e a Igreja, que rejeita com veemência as novas visões de mundo proporcionadas por invenções e descobertas. Já no século 20, período em que se afirma a “sociedade humorística”, uma das discussões a ser destacadas é o futuro do humor – e o riso, de acordo com Minois, “é um caso muito sério para ser deixado para os cômicos”. Muitos especialistas se manifestam sobre o destino do riso, com perspectivas às vezes totalmente opostas, mas tendo em comum a linguagem científica/filosófica/sociológica/antropológica/cultural/etnológica.

A projeção do etólogo Konrad Lorenz é poética e utópica: “Acredito que o humor exerce, sobre o comportamento social do homem, uma influência análoga à da responsabilidade moral: ele tende a fazer de nosso mundo um lugar mais honesto e melhor. Acho que essa influência aumenta, entrando cada vez mais em nossos processos de raciocínio”.

As perspectivas de Gilles Lipovetsky chegam a beirar o apocalíptico: “É com a sociedade humorística que começa a fase de liquidação do riso (...) A indiferença e a desmotivação de massa, a ascensão do vazio existencial e a extinção progressiva do riso são fenômenos paralelos: por toda parte é a mesma desvitalização que aparece, a mesma erradicação das pulsões espontâneas, a mesma neutralização das emoções (...) a capacidade de rir se encontra dopada”.

Sorria, acabou a reportagem. 

GILSON OLIVEIRA, jornalista e revisor.

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