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Chegou a hora de (re)montar o picadeiro

Em sua sétima edição, o Festival de Circo do Brasil traz atrações nacionais e internacionais e investe no diálogo com outras linguagens artísticas

TEXTO Pedro Paz

01 de Outubro de 2011

Atriz francesa Aurélia Thierrée no espetáculo que mistura dança, mímica e acrobacias

Atriz francesa Aurélia Thierrée no espetáculo que mistura dança, mímica e acrobacias

Foto Divulgação

Na modernidade, a indústria do entretenimento relacionou a arte circense ao universo da lona, com a apresentação de palhaços e mágicos, exibição de animais selvagens e números acrobáticos. Com o intuito de desconstruir esse imaginário, o Festival de Circo do Brasil chega à sua sétima edição com o conceito Muito mais do que você imagina. Sua programação aposta no sincretismo de espetáculos contemporâneos. Eles apresentam outras linguagens artísticas, como as artes dramáticas e fonográficas, além dos elementos tradicionais da técnica circense. Essa diversidade poderá ser atestada na exibição de grupos com origens distintas, em espaços diferentes, como teatros, praças, parques e ruas do Recife e Olinda – cidade que entra no roteiro de atividades do evento pela primeira vez. Entre as atrações da programação, destaca-se o trabalho da atriz francesa Aurélia Thierrée (neta do comediante londrino Charlie Chaplin), do ator de rua espanhol Adrian Schvarzstein e do trio italiano declowns do Teatro Necessario.

Festival de Circo do Brasil é realizado no Recife desde 2004, por meio da produtora pernambucana Luni Produções. Até a edição do ano passado, já reuniu cerca de 200 mil espectadores, segundo a organização do evento. Sua concepção foi desencadeada no início dos anos 2000, quando a jornalista pernambucana Priscilla Dantas assistiu ao espetáculo Andarilhos do repente, do grupo mambembe Armatrux (MG). O encantamento dessa experiência fez com que ela iniciasse uma pesquisa sobre festivais que trabalhassem com artistas do mesmo naipe. A partir disso, espreitou o tradicional Festival Mondial du Cirque de Demain, em Paris, e outros de porte menor, ainda na França. Concomitante à sua viagem – para surpresa dela – surgia um concorrente nacional. Estava sendo realizada a primeira edição do Festival Mundial de Circo no Brasil, em setembro de 2001, na cidade de Belo Horizonte. “Diferente do que nós pensávamos, o Festival Mundial tinha aspecto de mostra competitiva. Demos continuidade às pesquisas por mais três anos, até encontrarmos uma feição própria, que é esse novo olhar sobre a arte circense, além de um espaço de intercâmbio cultural com outras linguagens artísticas”, explica a produtora.

Este ano, o Festival de Circo do Brasil começa em pleno Dia das Crianças (12 de outubro), no Parque Dona Lindu, no Recife. O coletivo paulista Banda Mirim é o destaque da festa de abertura. Desde 2003, seus musicais infanto-juvenis acumulam prêmios, como o da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Pela primeira vez no Recife, o grupo traz o espetáculo Felizardo, que fala sobre a infância e o processo de amadurecimento da criança.

No mesmo local, apresentam-se, também, os clowns do Teatro Necessario, da Itália, apontados como “os novos Três Patetas”, em referência ao grupo cômico norte-americano. Eles conduzem a encenação interativa Nuova Barberia Carloni, ambientada numa típica barbearia italiana, em que os espectadores são convidados a atuar com o grupo. De volta ao Recife, após o sucesso do espetáculoL’oratorio d’Aurélia, em 2007, a atriz francesa Aurélia Thierrée apresenta sua mais nova encenação, intitulada Murmures des murs, no Teatro de Santa Isabel. Criado e dirigido por sua mãe, Victoria Thierrée-Chaplin, o número foi lançado em março deste ano. A exibição, no Recife, será a estreia da turnê mundial fora do continente europeu.

O festival também toma as ruas e ocupa, novamente, a Praça do Arsenal e a Torre Malakoff, no bairro do Recife Antigo, além da Praça do Carmo, coração do sítio histórico da cidade de Olinda. Entre as atrações rueiras, está o humorista espanhol Adrian Schvarzstein. Com sua cama móvel, ele executa um ritual ilusório a fim de construir uma casa imaginária, a partir da ajuda da audiência. Enquanto isso, a companhia belga Circoncentrique traz o espetáculo Respire, calcado nos preceitos do malabarismo, equilibrismo e acrobacia.

Com a ideia de formar plateia na cidade, a partir da identificação com o que está sendo apresentado, grupos pernambucanos não ficaram de fora do festival. Fazem parte da programação as encenações Divinas, da Duas Companhias; As levianas em Cabaret Vaudeville, da Cia. Animé; e Quatro, da Cia. Brincante de Circo. Também foi fechada uma parceria com a Semana de Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco (UPFE). O evento tem como foco, neste ano, a arte circense. A coordenação do curso cogita, até, incluir uma disciplina sobre o tema na sua grade curricular. Por isso, será realizada uma exibição da Companhia Italiana Giullari del Diavolo na instituição, seguida de um debate entre os artistas que compõem a trupe e alunos. O plano é iniciar um diálogo entre mercado e academia no Estado.

O Festival de Circo do Brasil também fomenta a arte cinematográfica e realiza, conjuntamente, a pré-estreia do filme O palhaço, dirigido e protagonizado por Selton Mello. Após a exibição do longa, a equipe da produção abre espaço para uma conversa com o público. No mesmo dia, o Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, recebe a festa Circo Sem Loção, parceria entre o festival e a balada Sem Loção, considerada a melhor de 2010 pelo jornal Folha de S.Paulo. Estão previstos, ainda, para a Torre Malakoff, no Recife Antigo, palestras, lançamento de livro e exposição fotográfica. 

PEDRO PAZ, estudante de Jornalismo e estagiário da Continente.

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