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Tatiana Clauzet

Natureza e símbolos em harmonia

TEXTO Adriana Dória Matos

01 de Junho de 2012

Parte do que é retratado por Clauzet é colhido em viagens a ambientes naturais

Parte do que é retratado por Clauzet é colhido em viagens a ambientes naturais

Imagem Reprodução

De tão simétrica, tão rica em detalhes, a pintura de Tatiana Clauzet dá, a quem a observa, a impressão de rigoroso controle e planejamento. De que houve estudos, esboços, racionalizações, enfim. Nada disso. A artista conta que a relação forma-pensamento em seu trabalho é intuitiva: ela não “sabe” o que vai pintar até que se coloque diante da tela ou do papel, que se oferecem como lugares de expressão poética, apenas considerada plenamente realizada quando está tudo equilibrado, harmônico. Essa estética, de um rigor não calculado, é construída pela observação ou imitação da natureza, esclarece Tatiana. “A simetria está muito presente nas sementes, folhas e se expressa nas polaridades inerentes a tudo, como o dia e a noite, o masculino e o feminino, o céu e a Terra.”


O colorismo equilibrado e a profusão de adornos em Meditando palavras. Imagem: Divulgação

É verdade que Tatiana conta com abundante material de referência para sua obra telúrica e vibrante. Nascida em São Paulo, em 1980, ela mora no Rio de Janeiro, num pedaço espesso de Mata Atlântica, na Serra da Itatiaia, onde também mantém seu ateliê. Além desse contato diário com os elementos da natureza muito bem interpretados em sua obra, ela investe constantemente em viagens de pesquisa a ambientes naturais, tanto no Brasil quanto fora dele. Dos relatos que faz dessas viagens, podemos depreender a tarefa de anotar elementos que posteriormente serão incorporados ao seu repertório imagético. “Sempre levo meus bloquinhos, que ficam repletos de anotações. Minhas viagens nada mais são que a busca pela beleza do aqui e agora.” Tatiana desenha animais – sobretudo aves, répteis e pequenos mamíferos – e vegetais, ciclos solares e lunares; e uma variadíssima gama de cores, padrões e texturas.


Nesta obra, alguns dos elementos caros à artista: vegetais, répteis, aves.
Imagem: Reprodução

Embora declarar-se autodidata não cause espanto – quando sabemos de incontáveis talentos que não tiveram qualquer educação formal –, surpreende o depoimento de Tatiana de que jamais havia pensado em ser artista plástica, até conhecer seu marido, numa viagem que fez à Austrália, no final dos anos 1990, quando ainda não tinha 20 anos. Quando casaram, eles foram morar numa fazenda no deserto australiano, “no meio do nada”, e naquele ambiente forte e isolado se dedicaram, ambos, inteiramente à pintura.


O grito de Thalu, o tigre da Tasmânia integra acervo recente da artista. Imagem: Reprodução

Ainda que não soubesse do seu futuro trabalho, Tatiana Clauzet vinha sendo preparada pela vivência familiar para a tarefa. Podemos verificar isso em sua árvore genealógica: os avôs paternos eram artistas da pintura e da madeira. O pai escreve, a mãe é paisagista. Em sua casa, portanto, sempre houve livros e arte, e um apreço pela natureza. Podia ter acontecido de nada disso gerar uma artista, mas... a semente germinou.


Elementos desta pintura sintetizam a imagética da obra da artista paulista, radicada
em Itatiaia, no Rio de Janeiro. Imagem: Reprodução

Árvore e germinação, palavras contidas no parágrafo anterior não são gratuitas, pois remetem a aspectos recorrentes na pintura dessa artista, em cuja obra há a imbricação de referências a simbologias antigas – de matrizes espirituais, artes e artesanias de povos tradicionais – e a representação de elementos da natureza. Tatiana diz que, muitas vezes, desconhece a interpretação de vários dos símbolos manejados e que recebe do público diversas informações, as quais ela vai agregando à sua experiência.


O caráter simbólico e espiritual de suas pinturas evidencia-se em Compasso do tempo.
Imagem: Divulgação

Sua obra alegre e colorida pode ser um testemunho de que não precisamos racionalizar tudo para chegarmos a resultados harmônicos e satisfatórios. 

ADRIANA DÓRIA MATOS, editora-chefe da revista Continente.

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