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Sabe lá o que é isso

TEXTO Alexandre Barros

01 de Outubro de 2012

Alexandre Barros

Alexandre Barros

Foto Divulgação

"Toda manifestação musical possui diversos elementos que a compõem e a caracterizam (...), como os elementos rítmicos, melódicos, harmônicos, estéticos e até mesmo políticos e sociais”, além do modo e finalidade com que usamos determinada música. É a partir dessas afirmações que se iniciam os diálogos presentes no recém-lançado documentário Sabe lá o que é isso, que pretende investigar e promover uma discussão sobre as mudanças ocorridas com o frevo ao longo de sua existência.

Foram várias as motivações para se produzir o filme, fruto de uma parceria entre os integrantes da banda Babi Jaques e Os Sicilianos e o escritor e cineasta Wilson Freire, que promoveu o encontro do nosso grupo com o Maestro Spok. Tanto nós quanto ele somos artistas que pensam e produzem frevo, modificando, cada qual do seu jeito, um ou mais daqueles elementos citados.

Segundo o próprio Spok, além do fato de a nossa banda e ele estarmos dando continuidade a uma tradição musical pernambucana e dialogando com as influências que recebemos, o que mais nos aproxima é que, em nossas construções artísticas, “preservamos o mais importante, que é a alma”.

Através desse encontro, surgiram novas indagações sobre o processo de formação do centenário ritmo pernambucano: “Como ele chegou ao padrão estabelecido e difundido hoje?”, “Quem propôs e quando foram feitas modificações?”, “Em algum ponto da história, o que conhecemos hoje por frevo tradicional não se enquadrava dessa forma?” e, finalmente, “Onde está o limiar que define se algo é ou não pertencente à determinada cultura?”.

Essas perguntas são respondidas, no filme, pelo jornalista José Teles, pelo compositor e carnavalesco Marcelo Varela, pelo radialista Hugo Martins, conhecido como “a enciclopédia viva do frevo”, pelos próprios músicos da Babi Jaques e Os Sicilianos e pelo Maestro Spok. Curiosamente, Wilson Freire conseguiu extrair as diversas respostas pronunciando uma única frase antes dos depoimentos: “Me fale sobre o frevo”.

Com a canção Sabe lá o que é isso, de João Santiago, adotada como hino do Bloco Carnavalesco Misto Batutas de São José, surgiu a vontade de trazer à tona – em um momento no qual se discute a cidade do Recife, seus patrimônios materiais, sua mobilidade urbana e as modificações propostas diante de seu crescimento populacional e econômico – a destruição física sofrida por um dos berços da cultura e do carnaval de rua recifense: o Bairro de São José.

A origem do carnaval de rua do centro do Recife e o seu consequente declínio, fruto de intervenções, também são abordados no documentário. O próprio Batutas de São José, hoje, não está mais sediado em sua comunidade de origem.

Participar da construção artística e operacional de Sabe lá o que é isso é quase uma contrapartida social ao privilégio do nascimento e da vivência em tão vasta e rica cultura. É apresentar, para o local de onde viemos, aonde nós podemos chegar. 

ALEXANDRE BARROS, baterista e produtor de som da banda Babi Jaques e os Sicilianos.

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