Arquivo

Eu sempre vou te amar

TEXTO Raimundo de Moraes

01 de Janeiro de 2013

Raimundo de Moraes

Raimundo de Moraes

Foto Divulgação

Marcel Proust dizia que todo leitor, quando lê, na realidade é um leitor de si mesmo. Ledo Ivo foi mais categórico ao dizer que, se o autor for lido uma única vez, ele não tem leitores, mesmo que o escritor seja um sucesso de vendas. O acadêmico alagoano afirma que o autor só tem leitores quando é lido e relido.

Então, seguindo o raciocínio de Ivo, uma única leitura seria um simples olá. A releitura seria o início de um relacionamento. Ou, talvez, o prosseguimento do diálogo: olá, que bom conhecê-lo.

As pessoas que escrevem publicam livros, e as que se chamam de escritores geralmente querem companhia. Escrever é um ato profundamente solitário, mas os enredos e as palavras buscam as grandes aglomerações. Que sentido teria o meu ofício se apenas eu o desfrutasse numa delicada masturbação artística? Mas, quando a masturbação se transforma em exibicionismo patológico, os escritores se equilibram precariamente na corda bamba. Alguns se arrebentam no chão.

Para mim, o leitor sempre será um enigma. O meu livro Tríade é um laboratório de feedbacks e referências. Costurado através de dois heterônimos antagônicos, ele se divide nos gostares. Quem lê Aymmar Rodriguéz, pouco se importa com Semíramis. Quem se deixa seduzir pela voz de Semíramis acha a poesia de Aymmar rasteira ou irreverente demais. E o Baba de moço? Este é um livrinho tipo ame ou deteste. É uma interrogação com 40 páginas. Se muitos o consideram pornográfico, por que os adolescentes amam? Parece que meus possíveis leitores querem se ler nos poemas que denunciam o consumismo exagerado, o fanatismo religioso, a homofobia. Parece que os leitores do Baba também querem ser cutucados fora do Facebook.

Ano passado, ao participar de um evento em Garanhuns, tive uma agradável surpresa. Um leitor emocionado pediu que eu autografasse um conto meu que estava inserido numa antologia. No brilho do olhar daquele rapaz, no seu sorriso, parecia que ele tinha encontrado na minha história um caminho só seu. Estávamos unidos através de uma porta que se abriu dentro do livro.

Escrever não foi a minha melhor opção de vida. Mas é muito bom ser lido. De que forma posso retribuir esse prazer? Amando você, leitor. Porque mesmo que você pare de gostar de mim, irei te amar sempre. Com gratidão, com alegria. Com curiosidade. 

RAIMUNDO DE MORAES, escritor, jornalista e publicitário.

Publicidade

veja também

Festa do teatro potiguar no Recife

Frevo de palco

A professora