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Ênfase na acessibilidade e nas formas animadas

Em sua 18ª edição, curadoria do Palco Giratório investe nesse recorte para discutir possibilidades de criação entre profissionais do campo

TEXTO Marina Suassuna

01 de Abril de 2015

Bailarino Dielson  Pessoa viajará o país com o espetáculo solo 'O silêncio e o caos'

Bailarino Dielson Pessoa viajará o país com o espetáculo solo 'O silêncio e o caos'

Foto Pedro Escobar/Divulgação

Conhecido pelo potencial de formador de plateia, a partir de uma programação sistemática por todo o país, o festival Palco Giratório, executado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), atinge a maioridade este ano, com uma programação que mantém o caráter híbrido das produções e promove a circulação de 20 grupos por 154 cidades brasileiras. Entre os critérios norteadores da amostragem reunida pela curadoria nesta 18ª edição, está a questão da acessibilidade nas artes, como forma de criar possibilidades dentro da linguagem cênica.

Artistas profissionais com necessidades especiais poderão ser vistos em espetáculos como Proibido elefantes, da Cia. Gira Dança (RN), e Avental todo sujo de ovo, do Grupo Ninho de Teatro (CE). O som das cores, da Cia. Catribum (MG), trata da acessibilidade por meio do teatro de bonecos. O trabalho compõe outro recorte dado pela curadoria: o teatro de formas animadas, cuja incidência em festivais tem sido escassa. Na linguagem, foram selecionadas, para circulação no país, as produções Criaturas de papel e O intrépido Anãmiri, do grupo Bricoleiros (CE); O pássaro do sol e Histórias da caixa, do grupo A Roda (BA); e Plural e O cabra que matou as cabras, da Cia. de Teatro Nu Escuro (GO).

O Nordeste foi a região com mais grupos selecionados para circulação, um total de nove. De Pernambuco, o bailarino Dielson Pessoa viajá o país com o solo de dança O silêncio e o caos, que tem como ponto de partida a sua experiência com a bipolaridade.

Criado em 1976, por André Luiz Madureira e Ariano Suassuna, o Balé Popular do Recife é o homenageado do Circuito Especial do Palco Giratório, que agracia grupos e profissionais que contribuíram para o desenvolvimento das artes cênicas no Brasil. De acordo com Mariana Pimentel, da gerência de cultura do Sesc Nacional, a concentração de produções nordestinas “desmistifica e tira alguns ranços do público geral”, acostumado, em outras edições, com a maioria de trabalhos do Sul e Sudeste.

Além disso, é uma maneira de provocar discussões e romper preconceitos, tendência que permeia essa edição do Palco Giratório. “É isso que nos interessa, se o espetáculo traz a possibilidade de discutir alguns limites preestabelecidos”, disse Raphael Vianna, da gerência de cultura do Sesc Nacional.

Dos 20 grupos selecionados para circulação, 12 chegarão a Pernambuco até novembro, com 50 espetáculos em 14 cidades. Ao contrário das edições anteriores, que concentravam as apresentações em maio, o Palco Giratório acontece, este ano, de maneira descentralizada. A opção feita pela gerência regional foi de fortalecer a interiorização a partir das Aldeias de Cultura, tidas como uma oportunidade de diálogo entre as produções regionais e as selecionadas para o Palco Giratório durante a passagem deste fora da capital. Na prática, os grupos assistem aos espetáculos uns dos outros visando à troca de ideias, experiências, técnicas, metodologias e processos criativos.

De 21 de abril até 2 de maio, o Sesc Petrolina dá início à Aldeia Vale Dançar, que recebe a Cia Movasse, de Minas Gerais, com os espetáculos Nowhereland (30/4, às 20h) e Playlist (2/5, às 20h). Os mineiros fazem um intercâmbio com o grupo local Qualquer Um dos 2 Cia de Dança (1°/5, às 9h). Apresentações de dança contemporânea, balé clássico, hip hop, dança de rua, solos e duos, protagonizadas por grupos locais, também estão na programação. As ações formativas serão concebidas com a realização de seis oficinas de iniciação à dança nas escolas públicas da região, além de seminários, palestras e da Mostra Pedagógica de Dança.

Em agosto, é a vez da Aldeia Velho Chico, realizada há 11 anos, chegar à cidade. Além destas, outras duas acontecerão até o final do ano: uma em Jaboatão dos Guararapes, intitulada Aldeia Yapoatan, com ações previstas para setembro, e a Aldeia Olho D’Água dos Bredos, em Arcoverde, sediada em novembro. Nas Aldeias Culturais, o público pode conferir não só mostras de teatro e dança, como também de música, cinema, artesanato, exposições e gastronomia. 

MARINA SUASSUNA, jornalista.

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