Curtas

Boogarins

3º disco firma a neopsicodelia da banda goianiense

TEXTO Erika Muniz

01 de Agosto de 2017

Banda Boogarins (GO)

Banda Boogarins (GO)

Beatriz Perini/Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 200 | agosto 2017]

“Existe uma tradição brasileira de rock psicodélico, com certeza. Mas a Boogarins não é uma banda fazendo um trabalho de homenagem”. É o que afirma, no New York Times, o crítico Ben Ratliff sobre o quarteto goianiense. Pela marcante identidade musical e envolventes execuções ao vivo, para muito além do psychedelic rock saudosista, a banda ganhou destaque no cenário de música independente do país e já tem o trabalho reconhecido – e elogiado – internacionalmente. De volta ao Brasil, após turnê pela América do Norte com mais de 30 shows em cinco semanas, a Boogarins lança agora, pelo site norte-americano Consequence of sound, o seu terceiro álbum de estúdio, Lá vem a morte, que também está disponível para audição no YouTube, acompanhado da vibe glitch art que as projeções e texturas visuais desenvolvidas pelo artista visual Rollinos sugerem. São oito faixas distribuídas ao longo de pouco menos de 30 minutos de duração.

Depois da estreia, em 2013, com As plantas que curam, o grupo – formado por Fernando “Dinho” Almeida Filho (voz e guitarra), Benke Ferraz (guitarra e sintetizadores), Raphael Vaz Costa (baixo) e Ynaiã Benthroldo (bateria) – apresentou ao público Manual ou guia livre de dissolução dos sonhos (2015). Repetindo este intervalo de dois anos, é a vez de Lá vem a morte (2017), com influências que vão de Milton Nascimento e The Olivia Tremor Control a Astrobrite e ao pop de Kanye West, no álbum Yeezus (2013).

As faixas de Lá vem a morte foram gravadas no segundo semestre do ano passado, enquanto a banda estava em turnê em Austin (Texas). Carregado de certa descrença e letras com ironia mais ácida que nos dois álbuns anteriores – sem renunciar ao lado onírico, característica do som feito pelo Boogarins –, este pode ser considerado um trabalho que explora o sensorial. “Estávamos longe das nossas verdadeiras casas por meses por causa das turnês, então esse sentimento meio deprê também está impregnado no disco”, explica Benke Ferraz em entrevista à Continente. Em uma mesma música, é possível experimentar três ambientações sonoras diferentes, mas há um fio condutor, a melancolia, que perpassa todo o conceito do disco. Ele se inicia com a faixa Lá vem a morte parte 1 e finda com Lá vem a morte parte 3. Álbum de duração relativamente curta para um LP nos modos convencionais, mas extenso para se classificar como EP, sua definição na página do Facebook da banda é certeira: um “EP longo / LP curto”. 

Nos três discos, a identidade sonora da Boogarins – de “rock progressista” ou “shitty jazz”, como definem seus integrantes – é evidente, mas neste último as melodias ganham sintetizadores pesados e mais ruídos, algo facilmente percebido numa breve audição dos dois primeiros. Outro ponto é que o baixo e a bateria ganharam mais robustez. Segundo Ferraz, as criações da Boogarins vêm de muita análise do que já foi feito anteriormente. Talvez por isso Lá vem a morte não repita o que eles vinham fazendo. Mas a surpresa do álbum fica pelo lançamento sem aviso prévio, alternativa escolhida pelo grupo para experimentar a liberdade dos modelos da indústria atual proporcionada pela internet.

Sobre o disco, o guitarrista complementa: “Tínhamos bastante coisa gravada, pensando num registro mais longo, mas durante nossa passagem por Austin, em março deste ano, gravamos mais coisa e conseguimos fechar bem o conceito pra esse EP longo, pensando em ter um material de inéditas lançado para a turnê norte-americana que acabamos de fazer. Talvez não seja o jeito mais esperto de se lançar e gerar um grande fluxo concentrado de plays, mas as músicas funcionam e vão chegar a quem tiver de ouvir”. 

Além dos discos de estúdio, o grupo vem utilizando a internet para disponibilizar singles, como A pattern repeated on, parceria com o produtor norte-americano John Schmersal, Elogio à instituição do cinismo, Olhos e Desvio onírico, álbum de gravações ao vivo que saiu em vinil em junho deste ano. “Vamos fazer o lançamento oficial do Desvio em São Paulo no Sesc Belenzinho, em agosto. Não sei se vamos lançar mais coisa inédita em 2017, mas, fora isso, pretendemos tocar bastante pelo Brasil”, afirma Benke Ferraz.

Sobre o apuro nas escolhas dos arranjos e as motivações estéticas do grupo, o guitarrista pontua: “Tudo que lançamos oficialmente como canção do Boogarins acaba sendo sons de melodias mais bonitas e bem definidas, que passeiam pelas texturas que criamos. Mas ouvindo o Desvio onírico, dá pra ver que também somos bem influenciados pela sujeira alta e pesada, característica de Goiânia.” 

Tags

Publicidade

veja também

“Eu não sabia o que era Carnegie Hall”

Samuca

[EXPOSIÇÃO] Precisão e acaso