Edição #228

Dezembro 19

Nesta edição

Histórias de luta

Encerramos este ano, editorialmente, com assuntos que ecoam preocupações e tensões que enfrentamos ao longo deste 2019, embora eles estejam longe de se restringir a esse recorte temporal, pois, sabemos, nossos problemas atuais estão enraizados em passados igualmente problemáticos e não resolvidos. A entrevista com o cacique Marcos Xukuru e a reportagem sobre a negação da História nos parecem particularmente elucidativas desse contexto. 

Realizada numa tarde de junho, a entrevista com o cacique se deu um mês depois de os nossos colaboradores Chico Ludermir e Eric Gomes terem participado e feito a cobertura, para a Continente Online, da 19ª edição da Assembleia Xukuru, que reuniu 2.300 pessoas, indígenas e não indígenas de várias partes do país, no território xukuru, em Pesqueira, durante três dias de mobilização política, cultural e religiosa. 

Na conversa com a Continente, Marcos conta como tem se dado a resistência do seu povo, hoje, uma população de 10 mil indígenas, sobretudo nos processos de retomadas de suas terras. Várias das falas do entrevistado, que assumiu o cacicado em 2000, dois anos depois do assassinato do seu pai, Xikão Xukuru, emocionam e inspiram o leitor, sobretudo pela clareza de propósitos e engajamento coletivo que suscitam. 

Desde os 11 anos, Marcos sabia, por revelação dos encantados, que seria o sucessor do líder xukuru. Só não poderia supor, naquele início de adolescência, que pouco tempo depois seu pai seria brutalmente assassinado em uma emboscada. Marcos tinha 17 anos quando da morte de Xikão; hoje está com 40, e as duas décadas em que está à frente do seu povo fortalecem nele a ideia de que toda conquista é fruto de uma gestão coletiva, guiada pelos que vieram antes deles, os ancestrais, os encantados. Daí o lema que rege as assembleias xukurus: “Em defesa da vida, eu sou Xikão”.

De sua parte, a reportagem sobre a negação da História, empreendida por Luciana Veras e com fontes valiosíssimas, esclarece-nos sobre os mecanismos ideológicos que engendram discursos e práticas de distorção do passado, como se fosse possível apagar da nossa memória acontecimentos como o Holocausto ou a ditadura militar no Brasil. Esta reportagem se alinha aos que não colocam em xeque a veracidade das atrocidades do passado. Assim nos despedimos de 2019, com o desejo de que 2020 nos traga bons frutos.

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