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"Investimentos em música de concertos são pontuais"

Maestro da Orquestra Sinfônica Jovem, José Renato Accioly fala sobre o cenário da música erudita em Pernambuco e que é preciso ampliar o mercado no estado para absorver jovens músicos

TEXTO Gianni Paula de Melo

01 de Maio de 2013

José Renato Accioly

José Renato Accioly

Foto Léo Caldas

[conteúdo vinculado à reportagem de capa | ed. 149 | maio 2013]

Montagem de óperas,
passagem pelo Conservatoire Erik Satie e direção musical do Baile do Menino Deus são alguns dos destaques do currículo do maestro José Renato Accioly. Hoje, o trabalho mais associado ao seu nome é a direção da Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música (OSJ/CPM), a qual ajudou a fundar.

CONTINENTE Qual a contribuição da OSJ/CPM para a música erudita em Pernambuco?
JOSÉ RENATO ACCIOLY A OSJ/CPM desenvolve, desde o seu surgimento, uma missão em dois sentidos: 1) formação de plateia; 2) proporcionar aos músicos que integram a orquestra a experiência de vivenciar temporadas com data, hora, lugar e repertório planejados. Quando iniciamos o que chamamos de Circuito Sinfônico, divulgamos a agenda de concertos com o repertório que vai ser interpretado; esse planejamento proporciona a organização da plateia.

CONTINENTE O que explica a popularidade da OSJ no interior?
JOSÉ RENATO ACCIOLY Desde a primeira edição do Circuito Sinfônico, em 2006, procuramos interiorizar os primeiros concertos dela. Pouco a pouco, fomos recebendo convites para apresentações em diversas cidades, levando a música sinfônica a lugares em que as pessoas nunca tiveram acesso. Após sete temporadas, percorremos mais de 40 cidades do estado, além de capitais e cidades importantes do Nordeste.

CONTINENTE Como você observa as iniciativas políticas para formação de público de concertos? 
JOSÉ RENATO ACCIOLY Acredito ser de fundamental importância o investimento forte e contínuo para que se possa perceber os efeitos benéficos. Proporcionar o prazer de apreciar música de concerto, incentivar a sociedade à sensação de tocar um instrumento e de tocá-lo em conjunto com outras pessoas é uma ação que humaniza, sensibiliza e sociabiliza. Apesar dos esforços, estamos ainda distantes dessa realidade. Os investimentos em música de concerto são pontuais, apesar do trabalho de instituições como o próprio Conservatório.

CONTINENTE Como você vê o mercado para o jovem que se dedica à música erudita?
JOSÉ RENATO ACCIOLY Pernambuco possui apenas um conjunto sinfônico com estrutura profissional: a Orquestra Sinfônica do Recife. Isso é pouco para um estado como o nosso. Hoje, temos na capital e no interior ações que desenvolvem a formação de jovens em música de concerto, como o Orquestrando Pernambuco, o Criança Cidadã e o Pró-criança. Mas não basta formar, temos que ser responsáveis pela ampliação da oferta de trabalho. Tenho testemunhado, com tristeza, jovens que se profissionalizam na área de música de concerto, estudam de forma dedicada seu instrumento, desenvolvem nível artístico a um estágio profissional e, para continuar atuando na música, precisam deixar nosso estado por falta de oportunidade.

CONTINENTE No caso dos novos compositores locais, o que poderia ser feito para estimular suas produções?
JOSÉ RENATO ACCIOLY Estimular a criação de novas composições é outra questão muito importante no sentido do desenvolvimento da música em nosso estado. Mais uma vez, podemos relatar ações pontuais. A Sinfônica Jovem do CPM vem contribuindo dentro de suas possibilidades. Estamos buscando patrocínio para a gravação do CD Pernambuco sinfônico: nova safra, de composições inéditas que estreamos ao longo desses últimos sete anos. 

GIANNI PAULA DE MELO, repórter da Continente Online.

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