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"Tempo é segredo senhor de rugas que tenho"

Como parte do especial de capa de junho/2016, o artista Alceu Valença fala sobre a chegada aos 70 anos e a sua trajetória

TEXTO Débora Nascimento

01 de Junho de 2016

Alceu Valença

Alceu Valença

Foto Hélia Scheppa

[conteúdo vinculado à reportagem de capa | ed. 186 | junho 2016]

CONTINENTE
Você já tinha pensado sobre idade, sobre chegar a essa idade?
ALCEU VALENÇA O tempo se dilata como um fio, cordão elástico, caminho, estrada que nos transporta. A vida é uma estrada. Então, todo mundo está indo diante da estrada que vai dar no nada, talvez. E isso são as preocupações das pessoas, mas é uma coisa contínua. Esse tempo tríplice, presente, passado, futuro, tudo ao mesmo tempo. Eu me reporto muito ao meu passado. Eu sempre falei muito no tempo. No meu primeiro disco, eu já falo da questão do tempo. O tempo em si não tem fim, não tem começo, mesmo pensado ao avesso, não se pode mensurar, buraco negro, a existência do nada, noves fora, nada. Por isso nos causa medo. Tempo é segredo, senhor de rugas que eu tenho, e marcas das horas abstratas, quando eu paro pra pensar. Isso era até uma música que ia fazer para o meu filme A luneta do tempo, que demorou tanto a ser feito, foram 14 anos.

CONTINENTE Por que esse tempo todo?
ALCEU VALENÇA Porque é muito difícil você fazer uma arte hoje no Brasil, uma arte verdadeira. Aliás, o cinema pernambucano está fazendo isso, uma arte verdadeira. Porque, primeiro, você não vai ter patrocínio, é quase tudo complicado, porque a indústria do entretenimento comeu, inclusive, a Lei Rouanet. Passei 14 anos pra poder conseguir patrocínio, era muito difícil, inclusive tive que aportar dinheiro do meu bolso. A segunda parte do filme quem pagou fui eu.

CONTINENTE Fazer esse filme era um sonho antigo?
ALCEU VALENÇA A gente vive do tempo, de lembranças, sobretudo. A gente projeta e está no presente. São lembranças da minha mãe. Minha mãe adorava cinema. São Bento do Una, minha cidade, tinha dois cinemas. Agora, não tem nenhum. Tinha o Cine Rex, onde eu, menino, ia ver os filmes com minha mãe, sempre. Todos os dias. Menino não era proibido de ir ao cinema, quando o pai levava. Depois, ficou muito careta, dizendo “proibido”.

CONTINENTE Como foi a realização da trilha sonora?
ALCEU VALENÇA É a primeira vez que eu faço trilha em função de alguma coisa, porque eu pensava, inclusive, que as músicas vinham através de um sopro divino. Não te direi que seria um “sopro divino”, mesmo porque não tenho religião. Tenho uma formação católica que minha mãe tem. Mas mamãe mora à beira da praia de Boa Viagem. Ela tem 102 anos. Fica olhando o mar e diz: “Estou olhando pra Deus”. Eu pergunto, “Que Deus?” Ela: “O mar é Deus. Porque nos parece infinito.”

CONTINENTE Você gravou essa trilha em que ano?
ALCEU VALENÇA Ah, não sei não! Faz muito tempo! Passei 10 anos fazendo essa trilha. Gravava em vários estúdios em Pernambuco e no Rio de Janeiro, de Tovinho, de Papini, no de Paulo Rafael. Depois, chamei os atores e estudei cinema com uma moça chamada Alexandra Lessa. Eu tive com ela 10 aulas. Ela é mulher de Aramis Trindade, que estava hospedado na casa do meu filho. Quando chego lá, o grande Waltinho Carvalho viu, por acaso, o que eu estava escrevendo. Ele disse: “É cinema! Vamos fazer esse filme. E eu vou dirigir com você”.

CONTINENTE Então, foi ele quem lançou a ideia.
ALCEU VALENÇA A vontade. Pra não ser totalmente ignorante, fui à Livraria Letras e Expressões, perto lá de casa (Ipanema, RJ), e comprei o livro de Doc Comparato. Depois, estava fazendo a história, já conversando com Waltinho, mas ele não pôde, foi fazer Budapeste, na Hungria. Depois, Andrucha me encontrou em Campina Grande, eu estava com o roteiro. Ele leu e disse: “Vamos fazer?”. Eu pensei: “Tô bem”. Pois bem, Andrucha foi fazer Casa de areia. Então, o cabra da peste, que sou eu, já tinha se lascado por causa de Budapeste, me lasquei por causa de Casa de areia. Fui à casa do meu filho e encontro Aramis e Alexandra Lessa, que é sobrinha de Roberto Lessa, que eu botei no meu filme também. Ela morou aqui (Olinda), eu a vi pequenininha. Fez cinema. Eu não sabia nada disso. Eu pensava: “Eu tô lascado, o que é que eu vou fazer?”. Aí, ela disse: “Eu sei um pouco de cinema”. Eu digo: “É? Então, me dê umas aulas”. Ela me deu aulas maravilhosas. Quando chegou em 10 aulas, eu disse: “Desculpe, mas eu quero fazer o meu filme. Não quero olhar mais nada!”. Vi muito filme, filme iraniano, eu estava interessado na gramática do filme. Eu sabia já o como e o porquê do close ser colocado ali. Não entendia mais nenhum filme, porque eu prestava atenção na parte técnica: “Isso é um travelling, uma pan…”.

CONTINENTE Como está sendo a distribuição do filme, essa parte que é o calo do cinema nacional?
ALCEU VALENÇA Eu ganhei em todas as críticas do Superhomem (Batman vs Superman), até o boneco do Globo bate palmas para o meu filme e fica dormindo no Superhomem versus Batman. Ele tinha 60 cinemas no Rio de Janeiro e eu tinha cinco. Então, a distribuição é problemática porque existe a coisa das grandes empresas que destroem, e também ganham dinheiro da Lei Rouanet pra fazer filmes imbecis. Mas, de uma certa maneira, foi bom, porque não estou interessado nisso. Nunca me interessei muito. Soube, há pouco tempo, que vendi com o Cavalo de pau 2,6 milhões discos. Eu não sabia, não me interessa; o que me interessa é a obra. Eu sou um cara de muita sorte, porque faço o que eu quero, do jeito que eu quero e tenho público. Agora, pra isso, houve também as minhas circunstâncias, as coisas que me favoreceram. À época, existia uma coisa para a música, “Disco é cultura”. Diminuíam os impostos para a música brasileira, que vendia 85%. A americana vendia 3%. E o brega vendia pouco. Quem falou isso pra mim foi João Araújo, pai de Cazuza, responsável pela Som Livre. Foram abrindo, dando as mesmas oportunidades e tirando impostos pra todo mundo e, aí, quem é detentor do poder vai ganhar de quem não tem. Hoje, sou conhecido no Brasil todo e fora. Tenho um público inacreditável, porque, quando rompi com a gravadora, eu já tinha muito sucesso.

CONTINENTE Alceu, com toda essa referência que você tem de música nordestina, como surgiu a ideia de usar instrumentos elétricos já no seu primeiro disco, feito com Geraldo Azevedo?
ALCEU VALENÇA Eu gosto de timbres diferentes. Existia uma coisa do Brasil não querer ser o Brasil. Então, todo mundo ouvia Rolling Stones. Mas eu, graças a Deus, não ouvi, apesar de ser bom. Não ouvi Beatles, a não ser quando ia numa casa e estava tocando. Eu não tinha radiola, porque meu pai não queria que eu fosse artista. Isso foi ótimo pra mim, pra não ficar sendo subproduto. Aí, todo mundo gostava do rock’n’roll e eu estava ligado na música brasileira. Era o Fino da Bossa, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, tudo isso antes da Tropicália. Eu ouvia meu tio Rinaldo cantando Cartola, Nelson Sargento, Ary Barroso. Morei numa rua onde era vizinho de Carlos Penna Filho e de Nelson Ferreira, na Rua dos Palmares, que não tinha nem calçada. Lá passavam os blocos que vinham dos arrabaldes mais distantes, tocando frevo, maracatu, caboclinhos, na frente da minha casa. Então, eu, com nove anos, 10 anos, já ouvia tudo isso. Morava perto de mim uma cantora lírica, Maria Parísio, que cantava na Rádio Tamandaré, na Rádio Clube de Pernambuco.

CONTINENTE Como surgiu sua sonoridade?
ALCEU VALENÇA Eu gostava de ouvir as bandas de pífanos e tinha uma música secular, A briga do cachorro com a onça. Uma vez comecei a pensar que, em vez de colocar duas flautas, que é da banda de pífano, eu poderia botar uma guitarra e uma flauta. Daria no mesmo, mas a sonoridade ficaria diferente. Só quem percebeu isso foi Luiz Gonzaga. Uma vez o encontrei na terra de Padre Cícero, Juazeiro do Norte. Ele disse (Alceu imita a voz do Rei do Baião): “Eu vim de Novo Exu só pra ver o seu show”. E eu com medo porque, nesse momento, as pessoas tinham um preconceito idiota contra a guitarra. Não pode haver preconceito com um instrumento, porque a sanfona não é brasileira. A sanfona de Dominguinhos não é igual à sanfona que se toca na Argentina, do tango; não é igual à sanfona que se toca na França, não é igual à sanfona da Itália. Você tem que ter uma linguagem. Arte é linguagem. E os instrumentos têm timbres. Eu inventei um timbre que ninguém entendeu. Apenas Luiz Gonzaga. Eu perguntei, “Seu Luiz, o que o senhor achou do meu conjunto?” Ele disse: “Meu filho, seu conjunto é uma banda de pife elétrica”. Noutra ocasião, eu estava participando do Cool Jazz Festival em Nova York, no Carnegie Hall, onde havia pessoas do jazz, blues, e eu fiz o meu show. E um cara do New York Times disse que tinha adorado, que nunca tinha visto nada igual e falou: “Eu poderia dizer que o seu show é o rock que não é o rock”. Ou seja, ele via ali o timbre, mas por dentro é outra coisa. Agora, quem ficava ouvindo Yes, Beatles, inclusive dava o “Yeah!”, levantava a mão e dizia “Yeah!”… Porra! Nunca dei “Yeah!”, nunca levantei a minha mão, e cantei no Rock in Rio.

CONTINENTE Queria que você contasse sobre a experiência no Rock in Rio.
ALCEU VALENÇA Rock in Rio 2 (em 1991). O primeiro eu fiz e o segundo eu ia fazer. Ia cantar antes de Prince. Aí, no Rock in Rio, saí daqui, havia uns músicos daqui que estavam tocando comigo e outros do Rio. Saímos uma semana antes pra fazer a passagem de som; fizemos. Prince veio e fez um novo palco, era um palco em cima de um palco, tinha umas rodinhas. Depois dos shows anteriores, empurravam esse palco. E, no palco, fizeram tudo certinho, passaram o som, porque não existia digitalização. Tinha que tomar nota exatamente onde estava uma coisa e a outra. Rapaz, quando eu fui cantar, o palco de Prince tinha quebrado, o que era pra mim, daqui pra aí, eu fiquei num espaço pequeno, com a minha bunda batendo no palco dele. Aí, puta que o pariu, entrei! O Lobão já tinha reclamado. Quando entro, cantei uma vez, começava a apitar, dar microfonia. Sabe por quê?

CONTINENTE Porque a mesa de som estava ajustada pra Prince.
ALCEU VALENÇA Você é um gênio! Aí, pedi outro microfone e mais outro microfone, no terceiro eu joguei pra fora e saí. Quando saí, a imprensa veio toda em cima de mim. Tinha um cara chamado Dody Sirena, que é hoje o empresário de Roberto Carlos. Ele disse: “Se você cantar depois de Prince, você vai se acabar. Porque, primeiro, o público vai embora. Porque depois de Prince…” Quer saber de uma coisa? Ele é Prince e eu sou Príncipe. Vou entrar, eu agora quero fazer na frente dos jornalistas todos, eu agora exijo entrar. A kombi da gente já tinha pegado todo o material. Correram pra voltar com os instrumentos e equipamentos. Me concentrei, lembrei-me da apresentação que fiz aos quatro anos em São Bento do Una, da minha mãe – aí entramos. Ajustaram o som. O meu show foi considerado o melhor do Rock in Rio.

CONTINENTE Do primeiro disco com Geraldo Azevedo pra cá, qual a análise que você faz do mercado fonográfico?
ALCEU VALENÇA Primeiro, o Brasil era o Brasil. Quando o Brasil virou Beatles, virou uma outra coisa. O Brasil era do samba, o Brasil era do forró, o Brasil era do frevo, o Brasil era do maracatu, do chorinho… Então, entra o movimento do rock’n’roll, que eu gosto, mas não quero que seja o dominante. Mas, sobretudo, quando chegaram os Beatles, a Jovem Guarda, esse negócio todo, aí ficou cafona ser brasileiro. Gosto das coisas do Brasil. Minha briga sempre foi essa. Não sou um cara que tem preconceito, mas teve um momento em que, por causa do Tropicalismo, a obrigação era misturar. Depois, o Brasil começou a virar uma coisa de segunda. O Brasil tem que ser de primeira. Fazer uma reforma artística. Não é uma coisa radical. É preciso que se valorize o que é teu, um jeito teu. O Brasil virou uma merda em futebol. Por quê? Quando foi imitar o outro.

CONTINENTE Como está a relação com as gravadoras?
ALCEU VALENÇA Depois que entrou a música americana. Eu não sou contra a América. Não tenho xenofobia. Mas, quando entrou, sobretudo a música anglófona, na década de 1980, entrou pra arrombar. O Brasil estava por cima de tudo. Com Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Amelinha, Elba Ramalho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, o Brasil estava se mostrando ali. Depois, começou a mostrar outra coisa. Empurraram a música brasileira pra baixo. Mas ainda sobrava um pouquinho até a década de 1980. Depois, não existe nada. Hoje, gravo por uma gravadora bacana, digital, mas até agora o digital não conseguiu engatar. É difícil você fazer um sucesso, a não ser essas coisas que acontecem sem ninguém esperar. Mas você não tem uma fidelização muito grande, vai fazer uma música agora, mas é tanta coisa à disposição, que não se sabe o que ouvir. Eu não uso muito isso. Mas fui escutar Luiz Gonzaga, escutei e já passei pra outra coisa.

CONTINENTE É uma nova forma de ouvir música.
ALCEU VALENÇA Uma nova forma de ouvir música. Mas acho que, daqui a um pedaço, vão encontrar uma maneira para que se consiga fazer um sucesso real via internet. Bem o que é que se estabelece atualmente? Ainda existe rede de rádios, é claro que dentro dela têm suas exceções. Mas a maioria é toda do jabaculê. Essas pessoas estão realmente destruindo, por exemplo, quem não tem uma grande plataforma de lançamento. Existem pessoas que estão fazendo músicas brasileiras maravilhosas, que não conseguem espaço, é horrível. E eu alertei sobre isso há muito tempo e ninguém me ouviu.

CONTINENTE Desses artistas novos, que estão lançando discos, de quem você gostou?
ALCEU VALENÇA Eu não posso conhecer e eu não posso nem nominar quem não deu certo, e que é bom, porque fica chato. Nominar pessoas que eu sei que eram ótimas, que faziam um trabalho maravilhoso e que, de repente, não aconteceram. Se eu disser isso, fica chato, porque aí estou dizendo que o cara é um “perdedor”. O cara ou a cara. Mas é muito complicado, você faça uma análise e observe que, depois de Chico César, Lenine, Zeca Baleiro, Marisa Monte, quem foi que surgiu com um trabalho autoral? Eles ainda pegaram o final da indústria fonográfica. A pirataria passou pra internet. Pois bem, então acabou nesse sentido. Para pessoas como eu, que têm os seus sucessos, é ótimo. Mas eu sou brasileiro, eu gosto de música. Gosto de arte e tal. Meu pai tinha alguma coisa, tinha fazenda, era procurador do estado. Mas ele não queria que eu fosse artista. Porque achava que haveria dificuldade. Hoje é que é difícil!

CONTINENTE Como é a sua relação com a crítica?
ALCEU VALENÇA Não me comove muito essa coisa de fazer um show pra agradar o crítico. Não me interessa isso. Os críticos falam. Às vezes, eu critico os críticos. Por exemplo, em determinado momento, não é todo crítico, os que são quase sempre moderninhos e não conseguem entender a história. Aí chega um cara pra falar, “Alceu botou maracatu dos dois baques”, eu não botei um maracatu no meu disco. Meu disco é de São Bento do Una. Não tem maracatu lá. Não existe. Então, ele ouviu falar que em Pernambuco tem maracatu e confundiu uma coisa com a outra. Mas num elogio inacreditável. Ele está me elogiando, mas está me elogiando de uma maneira errada. Pois bem, se eu vou botar a entrada do circo de Nagib (em A luneta do tempo), eu tenho que botar uma música árabe. Estou certo? Aí botei, (cantarola), que é o aboio, que é árabe. Só que eu coloquei, ao mesmo tempo, uma cítara pra poder ser trilha sonora para o personagem. Sabe o que o crítico botou? “Alceu se inspirou em George Harrison.” Meu Deus! George Harrison falava sobre música indiana, que tem uma relação com a gente, mas não é igual, é diferente. Eu estou falando da música ibérica brasileira com uma relação com os árabes mouros que passaram na Península Ibérica cinco séculos e que veio pra cá o aboio. Vão terminar dizendo que o meu filme podia ter um pouco da música da Dinamarca, se aparecesse alguém da Dinamarca. De BonoVox, pronto! E, se tiver alguém parecido com Mick Jagger, aí… Eu fiquei arretado com Mick Jagger! Sabe por quê? Quem deveria ter ido para Cuba era eu e a música brasileira! Sempre gostei dessas coisas de aventura. Saí daqui, fui para o Peru. Peguei um avião no Peru e fui pra Cuba fazer um festival. Eles, do rock’n’roll, nunca foram lá!

CONTINENTE Mas John Lennon quis ir com os Beatles duas vezes e Fidel Castro não autorizou.
ALCEU VALENÇA John Lennon pensava muito. O Mick Jagger, que, aliás, canta muito bem, ele nunca falou. Lá vai agora pra Cuba. Aí, eu faço uma pergunta a você: Quem pagou? Quem foi que pagou? Foi o governo cubano?

CONTINENTE Os Rolling Stones iam gravar um DVD.
ALCEU VALENÇA Eu sou um cara perguntador. Fui a Cuba. Era uma ditadura. Agora, determinadas coisas eram mentira. O povo era alegre, o povo dançava. Aí, depois, chegou uma blogueira esculhambando, dizia que não tinham internet… Como é que pode haver uma blogueira sem internet?! Eu penso geopoliticamente a vida toda. Pelo amor de Deus, não me falem mais em comunismo, em neocomunismo! Só existe um, que é o gordinho de lá da Coreia do Norte! O resto não existe. Então, por amor de Deus, pensar é preciso, é preciso conceituar, é preciso raciocínio, eu sou um doido, agoniado, eu conceituo, é preciso que se olhe o conceito, olhar para uma coisa, olhar os dois lados, no mínimo. Eu olho pra frente, pra trás, pra cima e no retrovisor do tempo, aí eu vou pra frente do tempo. São tantas e tantas coisas que eu previ. Por exemplo, previ que o Muro de Berlim ia cair. Sabe por que caiu? Vou dizer agora: por causa do papel higiênico em Berlim Oriental. Não existia bunda de comunista que aguentasse aquilo! Fui ao banheiro lá e, quando saí, eu disse: O muro caiu! 

DÉBORA NASCIMENTO, repórter especial da revista Continente.

 

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