Arquivo

Cinema como vetor para cultura e turismo

Com investimento público, setor audiovisual vive momento de expansão, assegurando a produção de dezenas de novos filmes pernambucanos neste ano

TEXTO Danielle Romani

01 de Setembro de 2012

Vitrines do São Luiz trazem em destaque produções do estado

Vitrines do São Luiz trazem em destaque produções do estado

Foto Jarbas Jr.

[conteúdo vinculado à reportagem de capa | ed. 141 | setembro 2012]

A produção cinematográfica pernambucana
vive uma fase vigorosa. Atualmente, oito longas-metragens encontram-se em fase de distribuição; outros dois, em circuito nacional; e mais 30 estão sendo elaborados. Performance possibilitada pela política de audiovisual implantada pelo governo estadual, que está injetando, em 2012, R$ 11,5 milhões na área.

“O cinema e a TV, como atividades econômico-culturais, geram emprego e renda, agregando todas as outras expressões artísticas, como os profissionais de teatro, música, artes plásticas e fotografia. São também responsáveis pela transmissão e recepção de símbolos e escalas em proporções universais. Um filme ou vídeo produzidos aqui contribuem para o ‘destino Pernambuco’, divulgando a cultura, o cenário e a identidade locais no Brasil e no exterior. Portanto, temos a convicção de que investir no audiovisual traz retorno e incentiva nossos valores”, diz Carla Francine, coordenadora estadual de audiovisual da Secretaria de Cultura.

O edital Funcultura Audiovisual possibilita esse ciclo virtuoso e está liberando para o período 2011/2012 a maior quantia já investida no estado. “No período 2007-2008 foram disponibilizados R$ 2,1 milhões. Em 2008-2009, foram R$ 4 milhões. Em 2009-2010, R$ 6 milhões. No ano passado, tivemos R$ 8 milhões. Os R$ 11,5 milhões deste ano são um recorde e serão destinados à produção de 24 longas, 27 curtas-metragens, 11 documentários para televisão, 36 projetos de formação, difusão e pesquisa e criação de 16 cineclubes” , contabiliza Francine.

Esse aporte financeiro coloca o estado como o sexto no ranking nacional de investimentos em cinema. O campeão de desembolso para a produção audiovisual, naturalmente, é o governo federal, com a Agência Nacional do Cinema dispendendo R$ 213,5 milhões, e a Secretaria do Audiovisual, com R$ 17,9 milhões.

Em terceiro lugar, vem a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro que, por meio do Fomento Audiovisual Carioca (FAC), está desembolsando, em 2012, R$ 15,2 milhões. Ela é considerada a maior investidora nacional por meio de edital. A Rio Filme (agência do município fluminense) é a quarta no ranking, com R$ 15,1 milhões. Em seguida, vem o BNDES, com R$ 14 milhões. Pernambuco fica em sexto, à frente de Paulínia (R$ 9,5 milhões) e até mesmo da Petrobras, que está em oitavo, com gastos de R$ 9 milhões. O levantamento foi produzido pelo site Filme B.

“O cinema pernambucano integra, junto com o da Bahia, do Ceará, de Brasília, Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, o que costumamos chamar de time ‘fora do eixo’, uma vez que, dentro do eixo, estão apenas as produções paulistas e cariocas. Crescemos e damos mostra de vigor, nitidamente, a cada ano. Temos filmes frequentemente premiados – a exemplo de O som ao redor (Kleber Mendonça Filho), que ganhou quatro prêmios no Festival de Gramado, há algumas semanas– e selecionados para festivais internacionais, como Cannes, Berlim e Veneza, nos quais já ganhamos prêmios importantes”, diz Carla Francine.

Diretor do Baile Perfumado, filme que projetou o cinema local em 1996, Lírio Ferreira avalia que nada “é dado de graça”, mas considera fundamental o apoio do governo do estado ao setor audiovisual. “O atual cinema pernambucano é reflexo de uma geração, de um lugar, de uma estética, mas também de uma proposta do governo de estado de assumir a responsabilidade dentro desse processo. Existe uma grande sensibilidade em relação à área. Começo a filmar o longa-metragem Sangue azul no final do ano. Tive incentivo da Eletrobras, Petrobras, mas não teria feito nada se não fosse o Funcultura: foi ele quem primeiro liberou dinheiro para a execução do roteiro, depois para a pré-produção. Lógico que alguns ajustes precisariam ser feitos na política do audiovisual, em especial no que diz respeito ao formato dos editais. Mas o caminho é certíssimo”, apontou o cineasta.


Longa de Kátia Mesel, O rochedo e a estrela recebeu subvenção do edital do Funcultura. Foto: Reprodução

Diretor de filmes como Amarelo manga e A febre do rato, Claúdio Assis também considera fundamental o incentivo dado pelo Funcultura. Inclusive, começa a filmar uma nova história, Big jato, em janeiro, com dinheiro liberado pelo edital. “Nossa política de audiovisual é um exemplo para outros estados. O único problema é que não deveria ser um fundo, deveria virar uma lei, para que não fosse abandonado, futuramente, por outros governos que não considerem o setor uma prioridade.”

SÃO LUIZ
A decisão do governo de comprar e tombar o Cinema São Luiz, livrando-o de ter o destino das outras casas de exibição – de virar loja ou templo religioso – também é saudada por Lírio Ferreira, que recorda: o Baile perfumado, um marco na trajetória cinematográfica de Pernambuco, foi lançado nacionalmente nas suas dependências. “O tombamento foi uma coisa inovadora. Mas não basta disponibilizar a sala e baratear ingressos. Tem que se fazer uma administração melhor”, pondera.

Para Cláudio Assis, a decisão de preservar o cinema foi acertada, mas não é suficiente. “Foi bom preservá-lo, é ótima a sua existência. Embora não veja lógica em termos um cinema bonito, mas cujo maquinário não funciona corretamente, com uma péssima sonoridade e imagem: é preciso um bom som e boas máquinas de projeção. Caso contrário, é como uma caixa bonita com nada dentro”, ressalva.

A coordenadora Carla Francine antecipa que, até dezembro deste ano, as queixas dos frequentadores mais exigentes serão atendidas. “Já encomendamos novos maquinários. Temos R$ 600 mil disponíveis para equipamento digital de ponta, com tecnologia 4K e 3D”, garante. A reforma esperada no entorno, entretanto, com a criação de uma área de cultural e de lazer, não tem data prevista para acontecer. “Existe, sim, o projeto para fazer o
Corredor da Aurora, mas não vai ser para agora, ele está em stand by”, afirmou a representante da Secretaria de Cultura.

No entanto, ela ressalta que, mesmo com algumas deficiências, o cinema vem cumprindo o papel desejado pela atual gestão, que é de possibilitar o acesso ao público de baixa renda, com entradas que custam R$ 4, inteira, e R$ 2, meia. Francine também chama a atenção para o projeto Cine Cabeça, que, diariamente, leva 500 alunos de escolas públicas para assistir a filmes no São Luiz.

“Estamos formando um público cinéfilo infantil, principalmente crianças que estão em território de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Com ingressos mais baratos, damos possibilidades às classes C e D de virem ao cinema. Também, na sala, realizamos algumas mostras importantes, como o Animage, Festival de Stop Motion, Cinema Silencioso. Enfim, estamos cumprindo nossa função de preservar um espaço que é patrimônio do Recife, abrindo suas portas para a produção local e para a comunidade.” 

DANIELLE ROMANI, repórter especial da revista Continente

Leia também:
Memória: Um sexagenário fundamental
Espaços de educação e amor ao cinema
Berlim: Cinemas que guardam a identidade urbana

Publicidade

veja também

Pesquisa: Teatro para a infância

“Não tive tempo de ser cinéfilo”

“Mesmo um filme que não fale diretamente de política, é político”