Do Peru ao boom na Califórnia
TEXTO Marcelo Sá Barreto
01 de Setembro de 2012
Duke Paoa foi um dos precursores do surf, no começo do século passado
Foto Divulgação
[conteúdo vinculado ao especial | ed. 141 | setembro 2012]
Se uma grande história é potencializada por uma boa polêmica, o surf traz uma discussão controversa bem na sua gênese. Onde tudo começou, ainda nos dias atuais, é tema recorrente nas rodas de especialistas. O Havaí e o Peru são parte central dessa trajetória milenar. No arquipélago norte-americano, diz-se que a arte de deslizar sobre as ondas, praticada pelos reis polinésios, vem de mil anos atrás. No país sul-americano, os caballitos de totora – embarcações parecidas com pranchas, feitas a partir de fardos de totora, espécie de palha peruana – eram usados pelos pescadores. E não se descarta que esses homens do mar, há 3 mil anos, aproveitavam o espumeiro das ondas para chegar à praia, com suas grandes tablas.
Discussões à parte, a versão moderna do esporte está prestes a completar 100 anos. Foi do havaiano chamado Duke Paoa Kahanamoku, campeão olímpico de natação e praticante do surf no dia a dia, que partiu a iniciativa de compartilhar um pouco do que, até então, só se conhecia no 50º estado norte-americano. Em 1915, na Austrália, ao se deparar com as condições perfeitas apresentadas lá para o exercício do esporte, confeccionou uma prancha e, na praia de Freshwater, com uma apresentação inédita naquele país, apontou o seu “marco zero”, que tem na terra aussie (gíria para “australiana”) a sua maior potência.
A popularização do surf ocorreu por volta da década de 1950, nos Estados Unidos, na Califórnia. A partir dali, várias transformações sucederam-se. Uma das principais diz respeito às pranchas. A lendária papa nui, um compensado de madeirite utilizado por Duke, tinha cinco metros de altura e pesava 50 kg. Com o passar dos tempos, a tendência foi reduzir tamanhos e pesos. O surf ganhou maior velocidade e progressão. Belo esteticamente e de aura contestadora, logo o esporte tornou-se vedete no cenário internacional – não sem ser marginalizado pela sociedade, que não via com bons olhos uma modalidade com ideais tão libertários. Aos poucos, com mais organização, ocorreu o embrião do que viria a ser o campeonato mundial da modalidade, em 1964, quando o australiano Midget Farrelly sagrou-se seu primeiro campeão.
O surf produziu ídolos. O maior deles é o norte-americano Kelly Slater. Não bastasse ser o recordista no número de títulos da ASP World Tour (WT), a elite mundial, com 11 taças, Slats, como é chamado, venceu mais eventos (50, ao todo), foi o campeão mais jovem (aos 21 anos), o campeão mais velho (aos 39) e só de premiação embolsou mais de US$ 3 milhões.
No Brasil, que tem como berços do esporte as praias do Arpoador (Rio de Janeiro) e Quebra-mar (Santos), aos poucos, os investimentos começam a focar a formação de jovens talentos. Não à toa, a maior esperança do tão sonhado primeiro título mundial recai sobre Adriano de Souza (Mineirinho), de 24 anos, e Gabriel Medina, de 18, ambos de São Paulo. Mineirinho, a cada ano, consolida-se entre os melhores do mundo, mas é Medina quem chama a atenção da mídia internacional. Com um surf ultrarradical, modelado nas manobras aéreas, é considerado o substituto de Slater, com quem já se confrontou no circuito mundial, num encontro legítimo da nova geração com a velha escola. Em quatro disputas, Medina ganhou duas e perdeu outras duas.
Pernambuco vive pela metade o boom do esporte. Antes da proibição do esporte em vários trechos da orla, por conta dos ataques de tubarão, no início da década de 1990, o Recife era considerado a terceira surf city do Brasil, atrás do Rio e de São Paulo. Agora, com as praias surfáveis distantes da Região Metropolitana, o número de praticantes diminuiu sensivelmente. Mesmo assim, pernambucanos são destaque no cenário internacional, como Carlos Burle, bicampeão mundial de ondas gigantes. Outros nomes, como Bernardo Pigmeu, Paulo Moura, Halley Batista e Alan Donato mantêm viva a chama do esporte no estado.
O futuro pertence aos garotos voadores. Esse é o novo foco do surf, que faz sucesso nas mais variadas praças internacionais e soma um time de 20 milhões de praticantes, dos quais os mais apaixonados fazem das transmissões no webcast das etapas do mundial um sucesso. Os aéreos alcançaram o status do tubo, antes, a manobra mais celebrada entre os surfistas. A plasticidade continua sendo a grande propaganda para o esporte ganhar espaço nos próximos anos.
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