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E tudo começou ali: Egito, Índia, China

Há várias hipóteses sobre os primórdios da arte mágica, mas não faltaram associações entre ela e rituais satânicos e feitiçaria

TEXTO Danielle Romani

01 de Julho de 2013

Especialista em truques de escapismo, Harry Houdini morreu ao ser desafiado por um espectador

Especialista em truques de escapismo, Harry Houdini morreu ao ser desafiado por um espectador

Foto Reprodução

[conteúdo vinculado à reportagem de capa | ed. 151 | julho 2013]

Há evidências de que a mágica é praticada
desde os primórdios da civilização. Mas, apesar do fascínio que sempre exerceu sobre a humanidade, suas origens são imprecisas e os seus rastros iniciais foram “apagados”. Os pesquisadores pouco sabem sobre os primeiros mágicos, truques e manifestações dessa arte da ilusão. As narrativas sobre personagens e episódios remotos existem, mas não são confiáveis.

É o caso da história em torno de Dedi, o primeiro ilusionista sobre quem se tem conhecimento, e que teria atuado no Egito, na corte do faraó Keóps. Relatos sobre suas habilidades estariam registrados em um papiro datado de 2000 a.C.

Há indícios de que, em países da Antiguidade, como Grécia, Índia e China, truques de manipulação nos quais o profissional usa três copos e uma bolinha para impressionar a plateia eram amplamente praticados.

A partir do final do século 15, quando a Inquisição começou a perseguir tudo que se assemelhasse à bruxaria, a mágica podia ser uma atividade perigosa. Ignorante e influenciada pela Igreja, a população acreditava que uma pessoa capaz de fazer uma moeda desaparecer tinha um pacto com o Diabo. Diante disso, muitos mágicos foram considerados bruxos ou feiticeiros, sendo presos ou queimados nas fogueiras.

Várias foram as tentativas de provar que a mágica não tinha nada a ver com bruxaria, que era apenas uma ciência de ilusão e habilidade conjugadas. O fazendeiro Reginaldo Scott, morador do condado inglês de Kent, chegou a escrever um livro provando que a mágica se pautava em truques. The discovery os witchcraft (A descoberta da bruxaria) era repleto de boas intenções, mas foi pessimamente recebido. James VI ordenou que todos os exemplares fossem queimados, pois considerou a obra profana.

IDADE MODERNA
Apesar do temor que a mágica provocava, o aparecimento da imprensa ajudou a diminuir o preconceito. A partir do século 17, apresentações dos mágicos parisienses começaram a ser divulgados. Surgiram as primeiras companhias teatrais de mágica. Com a Revolução Francesa, no século 18, o assunto passou a ser tratado abertamente. Nesse período, tratados sobre mágica começaram a ser produzidos em larga escala.

Em 1856, Luís Napoleão chegou a apelar para o mágico Robert-Houdin a fim de resolver uma rebelião na África: o profissional foi enviado à Argélia para convencer líderes muçulmanos locais – que incitavam uma revolta junto às tribos do país – de que a França possuía sacerdotes dotados de poderes miraculosos. E que poderia, portanto, fulminá-los. Outro mágico francês, George Méliès, foi responsável pela criação de truques que se tornaram efeitos especiais no cinema.

Mas a mágica, como a conhecemos hoje, com todo o glamour e números mirabolantes, só começou a ser exercida com o surgimento de Harry Houdini. Batizado oficialmente como Ehrich Weiss, o homem que é conhecido como o maior mágico de todos os tempos nasceu na Hungria, em 1874, mas foi criado nos EUA.

Sua fama começou a se consolidar na virada do século 20, quando as apresentações envolvendo espíritos (decorrentes do surgimento do Espiritismo) estavam no auge. Nos anos seguintes, os shows de Houdini se tornariam ainda mais espetaculares. Em todo o mundo, seu nome se tornou sinônimo de espetáculo e ousadia. Depois dele, os mágicos desenvolveram engenhocas fantásticas e os números se tornaram cada vez mais espetaculares. 

DANIELLE ROMANI, repórter especial da revista Continente.

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