Arquivo

Liszt/Mendelssohn: Dois amigos se encontram virtualmente no palco

TEXTO Carlos Eduardo Amaral

01 de Julho de 2011

Embora seu bicentenário tenha ocorrido em 2009, Mendelssohn será homenageado no festival, o que reforça proximidade entre ele e Lizst

Embora seu bicentenário tenha ocorrido em 2009, Mendelssohn será homenageado no festival, o que reforça proximidade entre ele e Lizst

Imagem Reprodução

[conteúdo vinculado ao especial | ed. 127 | julho 2011]

Entre os 21 de julho e 30 de agosto,
o Recife homenageará, lado a lado com Liszt, outro dos grandes nomes do Romantismo: Félix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847). Com patrocínio da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e direção artística da pianista Elyanna Caldas, o Festival Liszt/Mendelssohn seguirá a mesma linha do Festival Chopin/Schumann, realizado em 2010, e priorizará concertos e recitais com músicos nascidos ou radicados em Pernambuco, além de convidados com longa presença em palcos recifenses, como o paulistano Gilberto Tinetti.


Os pianistas Maria Clara Fernandes, Yuri Pingo e Gilberto Tinetti (fotos seguintes) irão compor o sexteto que executará a Hexameron, escrita por Liszt em 1837.
Foto: Wellington Dantas/Divulgação

A professora Elyanna Caldas explica que a celebração atrasada de Mendelssohn tem a intenção de compensar a quase ausência de concertos dedicados ao compositor alemão no Recife, no bicentenário de seu nascimento, pois somente após o sucesso do Festival Chopin/Schumann, também patrocinado pela Cepe, foi possível pensar em uma programação que contemplasse à altura o autor das Canções sem palavras – cuja maioria das obras é tão pouco valorizada no Brasil quanto à de Liszt.

Acerca da relação entre os quatro compositores em questão, a pianista comenta: “Liszt, Chopin, Schumann e Mendelssohn nasceram e viveram numa época de plena afirmação e efervescência do Romantismo; foram amigos, respeitavam-se e se admiravam entre si. Liszt foi um grande intérprete e divulgador da música de Chopin. Schumann, a propósito de Chopin, escreveu: ‘Tirem os chapéus, senhores, eis um gênio’. E Mendelssohn foi grande divulgador da obra de vários compositores – principalmente de Bach, esquecido até então”.


Yuri Pingo. Foto: Divulgação

Para enfatizar essa proximidade entre renomados músicos românticos, a apoteose do Festival Liszt/Mendelssohn caberá à primeira execução do Hexameron (1837), uma das obras homéricas do século 19, fora do Eixo Rio-São Paulo. Encomendado a Franz Liszt pela princesa lombarda Cristina Belgiojoso, o húngaro convidou outros cinco parceiros de prestígio a escreverem, junto com ele, variações sobre a Marcha dos puritanos, da ópera I puritani de Vincenzo Bellini (1801-1835), e então criou uma introdução, um final e as interligações da peça.


Gilberto Tinetti. Foto: Ana Lúcia/Divulgação

Concebido originalmente para seis pianos e estreado por Liszt, Chopin, Carl Czerny, Henri Herz, Johann Peter Pixis e Sigismond Thalberg, o Hexameron só foi tocado no Brasil em três ocasiões, duas em 1979 e uma em 2010. No Teatro da UFPE, dia 26 de agosto, será executada a transcrição para seis pianos e orquestra, feita pelo norte-americano Robert Linn (1925-1999), com a participação de Maria Clara Fernandes, Gilberto Tinetti, Fernando Müller, José Henrique Martins, Yuri Pingo e Elyanna Caldas, sob regência de Henrique Gregori.

Àqueles que desejam conhecer interpretações memoráveis de Liszt, a professora Elyanna Caldas recomenda gravações de Busoni, Paderewski, Arrau, Richter, Bollet, Alicia de Larrocha, Brendel e, mais recentemente, Martha Argerich, Nelson Freire e Arcadi Volodos. Mas ela avisa: “Acho inadequado afirmar que ‘esse ou aquele é melhor’, em se tratando de arte. Cada um é único na execução de uma determinada obra. Cada artista traduz o que foi escrito pelo compositor de acordo com a sua visão, o seu sentimento, procurando ser fiel ao estilo do autor e à sua época”. 

Leia também:
Peregrinações musicais
Frio serrano de Gravatá acolhe o III Virtuosi

Publicidade

veja também

Pesquisa: Teatro para a infância

“Não tive tempo de ser cinéfilo”

“Mesmo um filme que não fale diretamente de política, é político”