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O relançamento de uma obra que permanece

Livro mais conhecido do economista Celso Furtado, publicado pela primeira vez em 1959, recebe agora uma caprichada edição comemorativa

TEXTO Ricardo Melo

01 de Dezembro de 2009

Um contratempo marcou a história de um dos mais importantes estudos sobre a economia brasileira. Na apresentação à edicão comemorativa do cinquentenário de Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado, a jornalista Rosa Freire d’Aguiar Furtado, sua mulher, revela que um problema técnico no avião em que Celso ia para a Inglaterra, em 1957, obrigou-o a permanecer um dia no Recife, cidade em que morara no fim dos anos 1930.

Na livraria Imperatriz, encontrou uma edição do livro de Roberto Simonsen, História econômica do Brasil. Segundo Rosa, após um leitura atenta, Celso Furtado chegou a Cambridge pensando em explorar os dados quantitativos que Simonsen reunira sobre o período colonial. “A ideia se desdobraria no estudo de quatro séculos da economia brasileira”, ela conclui.

Lançada em janeiro de 1959, Formação econômica do Brasil, obra fundamental na história do pensamento econômico brasileiro e que permanece atual, já vendeu 350 mil exemplares e foi traduzida para nove línguas (espanhol, inglês, polonês, italiano, japonês, francês, alemão, romeno e chinês). São 34 edições até agora, além de algumas especiais como esta, lançada em setembro pela Companhia das Letras. Trata-se de uma bem-cuidada republicação do texto original, que cobre 294 páginas, completada por uma introdução escrita por Luiz Felipe de Alencastro e fortuna crítica, com 21 comentários, publicados ao longo dos últimos 50 anos e um caderno de fotos.

Celso Furtado (1920-2004), paraibano, após voltar da França, em 1948, onde se doutorou em economia pela Universidade de Paris, integra-se à recém-criada Cepal — Comissão Econômica Para a América Latina, da ONU, na qual permanece por nove anos. Em setembro de 1957 segue para a Universidade de Cambridge. Ali, no King’s College, escreve Formação.

No seu retorno ao Brasil, Furtado, à frente de uma diretoria do BNDE, elabora o estudo Uma política de desenvolvimento para o Nordeste, que dá origem ao Conselho de Desenvolvimento do Nordeste, embrião da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Assume, em 1962, a pasta do Planejamento, no ministério do presidente João Goulart. Em 1964, com os direitos políticos cassados pelo Regime Militar, Celso Furtado passa a desenvolver trabalhos como pesquisador e professor no exterior, só retornando regularmente ao Brasil após a Anistia.

Autor de mais 37 livros, Celso Furtado foi membro da Academia Brasileira de Letras e, como ministro da Cultura, em 1986, elaborou e implantou a primeira lei de incentivos fiscais à cultura.

RICARDO MELO.

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