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“Não fiz seleção por mérito do escritor, apenas pela temática”

O jornalista e sociólogo Abdias Moura fala sobre o processo de escolha dos autores e textos que entraram em 'O Recife dos romancistas'

TEXTO Gianni Paula de Melo

01 de Novembro de 2011

Abdias Moura

Abdias Moura

Foto Ricardo Moura

[conteúdo vinculado ao especial | ed. 131 | novembro 2011]

Embora rejeite o rótulo de “escritor nordestino”, o jornalista e sociólogo Abdias Moura não nega suas raízes. Pelo contrário, ele as exalta. Do afeto pela cidade em que vive, surgiu o livro Recife dos romancistas, uma homenagem à capital pernambucana que, muitas vezes, foi personagem de textos literários. Abdias recebeu a Continente para conversar sobre a obra que inspirou esta edição especial da revista.

CONTINENTE Como surgiu a ideia do livro?
ABDIAS MOURA A ideia surgiu quando, na Argentina, minha mulher me deu o livro Buenos Aires das novelas. O título prometia muito, mas é um trabalho diferente do meu. Ele reuniu autores que viviam na cidade, mas escreveram novelas sobre assuntos diversos, não só sobre o lugar. Como eu já tinha escrito 13 obras, a maioria ensaios sociológicos e alguns pequenos romances, resolvi fazer um livro de homenagem ao Recife. Recentemente, perguntaram-me se me considero um escritor nordestino, brasileiro ou universal. Eu disse que gostaria de ser considerado universal, com raízes no nordeste brasileiro. De todo modo, eu sentia, como recifense, que precisava celebrar a minha cidade e, em vez de fazê-lo com um trabalho meu, juntei os trabalhos dos outros. Procurei reunir todos os romances que foram escritos sobre o Recife, não importando se os autores eram recifenses. O que interessava era que eles apresentassem uma visão pessoal da cidade. Entusiasmei-me muito, quando comecei a escrever, porque não imaginava que ia ter que lidar com 72 romancistas.

CONTINENTE Houve dificuldades na produção do livro?
ABDIAS MOURA Foi uma busca maluca, porque eu pensava que eram poucos. Eu queria incluir muitas publicações antigas, algumas delas desaparecidas. Outro grande problema que eu tive nesse livro foi separar o Recife de Olinda, porque, na minha visão, elas estão unidas fisicamente e espiritualmente. Mas, na prática, percebemos que os olindenses não querem pensar em uma subordinação ao Recife, e os recifenses têm a velha soberba de ser a capital.

CONTINENTE Foi estabelecido algum critério para seleção dos escritores catalogados?
ABDIAS MOURA Eu recebi uma crítica curiosa do meu editor de Buenos Aires, que adorou o livro – disse que era enciclopédico, e só possuía um defeito: excesso de generosidade na inclusão de alguns autores. A questão é que não fiz seleção por mérito do escritor, apenas pela temática. Não quis fazer um julgamento dos livros, e coloquei todos, mesmo os que não considero bons. Alguns me agradam muito, outros nem tanto, e alguns, nem um pouco. Mas não usei o critério de qualidade da obra, apenas considerei a preocupação do autor em descrever o Recife.

CONTINENTE Por que trabalhar com romance, em detrimento de outros gêneros?
ABDIAS MOURA Até sugiro que algum corajoso faça o Recife dos contistas. Eu não suportaria outro projeto desses. Existe o Recife dos poetas, eu fiz o Recife dos romancistas e, agora, pode ser que alguém faça o dos contistas. Não fiz e expliquei: a quantidade de contos surgindo é muito grande e eu não poderia abarcar esse universo. Aí, perguntam-me: você conseguiu todos os romances que falam do Recife? Desde que terminei o livro, só chegou um novo (O romance da Besta Fubana). Pode ser que, na segunda edição, eu precise incluir mais alguns. Mas, na verdade, não penso nessa continuidade.

CONTINENTE Quanto tempo durou a produção do livro?
ABDIAS MOURA Demorei nove meses. Mas fiquei louco nesse tempo. Eu não dava atenção a mais nada. Já levei seis anos em um livro, mas escrevendo-o nas horas vagas, e não foi o caso desse. 

GIANNI PAULA DE MELO, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.

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