Curtas

Bonecas falando para o mundo

Identidades “desviantes” de gênero e sexualidade são tema do livro do dramaturgo pernambucano Rodrigo Dourado, com lançamento este mês

TEXTO Paula Mascarenhas

25 de Julho de 2018

O dramaturgo Rodrigo Dourado

O dramaturgo Rodrigo Dourado

Foto Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | edição 212 | agosto de 2018]

Qual o limite entre a vida real e as artes cênicas? Estudiosos da cena afirmam que a realidade está repleta de teatralidade. Da mesma forma, o teatro contemporâneo não busca imitar a vida cotidiana, mas, sim, retratá-la artística e poeticamente. Então, como a complexidade das identidades sexuais e de gênero, inerentes às nossas relações sociais, são reproduzidas na arte da cena? É o que investiga o dramaturgo pernambucano Rodrigo Dourado no livro Bonecas falando para o mundo: identidades “desviantes” de gênero e sexualidade (Sesc, 2017), lançado no fim de julho.




Resultado da sua pesquisa de doutorado em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia, Bonecas falando para o mundo é uma análise da representação das identidades “desviantes” de gênero e sexualidade em quatro espetáculos teatrais, um argentino e três brasileiros. Em entrevista à Continente, Rodrigo Dourado reitera o sentido positivo da palavra “desviante”.“Utilizo este termo para falar dessas identidades fora do padrão, ou seja, de sujeitos que são marginalizados e excluídos por ‘destoarem’, se ‘desviarem’ da norma heterossexual e cis. Assim busco entender no livro como essas identidades são construídas e problematizadas no teatro”.

Além da influência dos estudos americanos, como a teoria queer, Dourado lança mão de suas experiências locais com a Trupe do Barulho e a Companhia Baiana de Patifaria, por exemplo, para aprofundar-se na histórica relação de acolhida do teatro com a comunidade LGBT, que encontra, no espaço cênico de alteridade, a possibilidade de viver o que é proibido no cotidiano. “Na fantasia do teatro, tudo torna-se possível”, Rodrigo destaca. Como uma homenagem a um espetáculo do Grupo de Teatro Vivencial de Olinda, que produzia números de transformismos e apresentações de travestis nos anos 1970, Bonecas falando para o mundo transformou o aspecto depreciativo do termo “boneca” em orgulho: ser boneca é finalmente assumir o feminino. Um título emblemático para referir-se às artes cênicas como instância que permite a essas identidades “desviantes” falarem e se mostrarem para Pernambuco e para o mundo.

PAULA MASCARENHAS é estudante de Jornalismo da UFPE e estagiária da Continente.

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