Curtas

Casarão Magiluth

Grupo de teatro põe em ação seu espaço cultural no Recife

TEXTO THAÍS SCHIO

04 de Março de 2020

Da esq. para dir.: os intergrantes do Magiluth Giordano, Mário Sergio, Bruno, Lucas e Erivaldo na frente do casarão da Rua da Glória

Da esq. para dir.: os intergrantes do Magiluth Giordano, Mário Sergio, Bruno, Lucas e Erivaldo na frente do casarão da Rua da Glória

Foto ESTÚDIO ORRA/DIVULGAÇÃO

[conteúdo na íntegra | ed. 231 fevereiro de 2020]

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Em novembro de 2019, enquanto participavam da minissérie dirigida por Hilton Lacerda, Chão de estrelas, cuja narrativa gira em torno de uma trupe que decide ocupar um casarão abandonado no centro da cidade, o grupo de teatro Magiluth percebeu, através da ficção, uma forma de materializar um antigo sonho conjunto. Isto é, o de perfilhar um lugar para “promover o encontro, gerar debates e disseminar a arte de artistas que carecem de um local físico para se colocar em cartaz”. Pouco tempo depois, o casarão que serviu de set à minissérie, localizado no número 465 da Rua da Glória, na Boa Vista, seria transformado no Espaço Cultural Casarão Magiluth, em funcionamento desde janeiro deste ano, com a proposta de agregar variadas expressões artísticas, de teatro, dança, música, artes visuais, com uma agenda variada de espetáculos, exposições, ações e cursos.

Há 15 anos, o grupo – formado por Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner – vem renovando a cena artística do Recife com seu repertório autoral e comprometido com as urgências do contemporâneo, além de outras ações de formação pedagógica que já viajaram pelo país. Foi Mário quem teve o primeiro “estalo” para resgatar o casarão. Em entrevista à Continente, ele lembra como a relação afetiva do grupo com o espaço vai além dos três meses de gravação de Chão de estrelas.

Entre 1993 e 2014, o lugar abrigou o Espaço Cultural Inácia Raposo Meira, criado por Socorro Raposo, atriz e produtora cultural responsável por ter movimentado a vida de muitos artistas que passaram pelo lugar. Inclusive, a de Mário que, como estagiário, chegou a ensaiar por lá. Seis anos atrás, por causa de um aneurisma, os esforços de Socorro precisaram ser interrompidos. Hoje, o Magiluth vem sendo responsável por reativar as atividades no local, que conta com áreas interna e externa amplas, um quintal com árvores e espaço agradável à realização de atividades lúdicas, criativas e educativas.

“Tínhamos a consciência de que o custo seria muito alto, mas decidimos arriscar. Colocar o nosso nome, trazer olhares de todo o país, já que temos uma rede imensa de contatos. Trazer apoio e mídia, tudo isso faz parte da nossa estratégia. E, quando tudo estiver em perfeito funcionamento, essas parcerias vão chegar e agregar muito a este casarão. E nos socorrer também. Porque a corda está bem apertada em nosso pescoço. Mas… quando não esteve? Está tudo desmoronando lá fora. E nós, artistas e público, temos um espaço nosso, para fruição. Para exercitar o debate, inclusão, empatia… tem que dar certo. Vai dar certo”, enfatiza Mário.

O risco parece estar valendo a pena. O ritmo agitado dos primeiros dias de funcionamento do espaço comprova que, apesar dos percalços, a arte resiste. “Na abertura, fui incumbido de dar início aos trabalhos, de apresentar a casa, a ideia, o show de Martins e PC Silva, de ler a placa em homenagem à dona Socorro Raposo, e não me contive. Não consegui segurar as lágrimas. No dia seguinte, Giordano adoeceu e tivemos que cancelar nossas apresentações, estornar os ingressos que já tinham sido comprados, produzir um festival relâmpago para a casa não ficar fechada. Que loucura! Percebemos ali que não estávamos sozinhos. E quando, finalmente, pudemos estar em cena, foi o ápice. É o que amamos e sabemos fazer. O resto foi inventado para que pudéssemos exercer o nosso ofício. Tanto o Aquilo que o meu olhar guardou para você como o Luiz Lua Gonzaga foram revigorantes para nós”, comenta Mário, referindo-se às peças apresentadas pelo grupo nesta abertura.

Para o futuro próximo, o Magiluth planeja investir, através de um financiamento coletivo, em algumas reformas de acessibilidade, além de estrear de duas a três performances solos que integram o “projeto torto”, iniciado com a peça 1 Torto, monólogo criado por Giordano que, de certa forma, estabelece uma linha de identidade narrativa para performances que virão a seguir. O Magiluth pretende também estrear o espetáculo Morte e vida severina, ainda no mês de maio. E relembra: “Precisamos conseguir apoio público, privado, todo tipo de apoio, para o casarão conseguir se manter”.

THAÍS SCHIO é jornalista em formação pela Universidade Católica de Pernambuco.

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