Curtas

Coração

A nova fase do cantor e compositor pernambucano Johnny Hooker

TEXTO Eduardo Montenegro

09 de Agosto de 2017

O repertório do disco 'Coração' parece ter sido feito para ser cantado ao vivo

O repertório do disco 'Coração' parece ter sido feito para ser cantado ao vivo

Foto Carol Caminha/Gshow

Quando Johnny Hooker subiu ao palco do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, no domingo do dia 6 de agosto, este ano, para estrear a turnê Coração, fez lembrar Madonna na sua clássica apresentação no MTV Video Music Awards em 1989. Uma única luz fazia a silhueta do cantor pernambucano se destacar num pano branco, exatamente como a cantora fizera anos antes, ela que lhe é uma inspiração já confessada. “Olha eu aqui de novo, viver, morrer, renascer, firme e forte feito um touro”, eis os primeiros versos cantados na noite, em uníssono, por uma multidão que se reuniu não somente para celebrar o novo álbum homônimo (lançado no dia 23 de julho), mas também o aniversário de 30 anos de Johnny Hooker.

Desde o lançamento de Eu vou fazer uma macumba para te amarrar, maldito!, em 2015, a carreira de Hooker acelerou. Não somente por Volta ter sido trilha sonora no filme Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda, mas também por Amor marginal e pela regravação de Pense em mim para a minissérie Justiça, da Rede Globo. A essa altura, a turnê Macumba já peregrinava pelo Brasil de canto a canto. O resultado de todas essas viagens com a primeira turnê resultou, segundo o próprio cantor em entrevista ao Papel Pop, num álbum de gênero flexível, variando do blues ao axé, samba, frevo, synthpop etc.

Assim como Johnny sugere na faixa Touro, o novo projeto vem como um renascimento. “Esse álbum é resultado de tudo o que eu passei nos últimos 10 anos”, disse o artista, mais tarde. O novo disco se diferencia do primogênito não somente pela proposta, mas igualmente pela sonoridade. Para quem estava acostumado a ouvir Johnny Hooker com seu rock com influências do brega recifense, pode ter sentido certa estranheza ao escutar faixas como Caetano Veloso ou Eu não sou seu lixo. Entretanto, o repertório de Coração parece ter sido feito para ser cantado ao vivo, funcionando melhor que na versão estúdio.

Ouça álbum completo:



A estrutura do novo show se construiu com a banda espalhada num cenário negro, com projeções em três pequenas telas ao fundo. Durante a apresentação, que ultrapassou facilmente a duração de uma hora, Johnny Hooker trocou de roupa três vezes, totalizando um guarda-roupa de quatro figurinos diferentes, contando com o primeiro. O repertório foi de uma mistura de faixas do primeiro e segundo álbum, seguindo uma linha narrativa implícita de superação e recaídas amorosas através das canções. Algo que, do ponto de vista simbólico, também podia ser igualmente interpretado pelo modo como se vestia.

Ao sair do palco para retornar com Volta, por exemplo, o cantor vestiu-se inteiramente de negro, como se simbolizasse um luto pela decepção, pela “sofrência” tão marcante nas músicas do pernambucano. Se na primeira turnê Hooker sequer trocava de roupa, a produção de Coração renovou um show que ameaçava seguir o “mais do mesmo”, ainda que não tenha perdido a essência simples de Johnny (ainda bem!). A audiência, de braços erguidos, cantando, rebolando, ou simplesmente dançando, era uma extensão da própria energia do cantor em cena.

Como é característico, Hooker se despediu ao fim de Escandalizar sem literalmente dizer adeus. “Ele não sairia do palco sem cantar Flutua, a primeira do álbum que ele lançou”, ouviu-se uma menina dizer na plateia. E, de trajes quase formais, Johnny Hooker retornou para cantar a sua parceria com Liniker, finalmente, a última música da noite de estreia. Em ressonância ao “Fora Temer” proclamado pelos fãs, a música cantada uma mensagem clara: “ninguém vai poder querer nos dizer como amar”. 

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