Curtas

Despretensioso

Violonista pernambucano Cláudio Almeida lança álbum singelo

TEXTO Paula Mascarenhas

01 de Novembro de 2018

O músico pernambucano Cláudio Almeida e seu violão

O músico pernambucano Cláudio Almeida e seu violão

Foto Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 215 | novembro de 2018]

Despojado, modesto, singelo. É assim que o violonista pernambucano Cláudio Almeida encara a sua música e o seu estilo, com bastante simplicidade. Por isso, resolveu batizar seu novo disco de Despretensioso. Com canções autorais de seus discos anteriores e algumas faixas inéditas, a coletânea reúne os principais elementos musicais que marcaram sua obra “despretensiosa”, mas rica de arranjos e solos não só do seu violão, mas que destacam também a sanfona, o pandeiro, o violoncelo, a rabeca. Natural de Pesqueira, cidade boêmia e carnavalesca do agreste do estado, Cláudio herdou a musicalidade do pai para homenagear sua terra natal e sua origem pernambucana.

Violonista virtuose, compositor, arranjador e produtor musical, Cláudio Almeida cresceu no ambiente musical. Seu pai, o saxofonista Osvaldo Almeida, foi um dos integrantes da banda Turma da Velha Guarda, grupo que participava do famoso programa de música Serões e Serestas, transmitido pela Rádio Difusora de Pesqueira, na década de 1950. Embora tenha vivido em um espaço de música, seu interesse pelo violão veio depois do gosto pela bateria e guitarra, apenas se dedicando às cordas após ter concluído o curso de Economia e ainda de forma autodidata.

Em 1979, surge sua primeira gravação: Chorinho pra Osvaldo. O choro não foi só um tributo ao pai, mas também um marco inicial para as próximas gravações que viriam – frevos e arranjos que entoam os blocos de Carnaval até hoje, como os tradicionais Galo da Madrugada, Bloco da Saudade, Caranguejo no Caçuá e Paraquedista Real.

Contudo, a musicalidade de Cláudio Almeida vai além dos ritmos carnavalescos. Ao longo de sua trajetória, o artista revelou sua versatilidade e seu apreço pelos múltiplos estilos e parcerias musicais. O instrumentista não só teve canções interpretadas por Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Dominguinhos e Cauby Peixoto, como também realizou diversos shows com esses e outros artistas nacionais e de Pernambuco. Além de contínuas apresentações como solista, Cláudio é integrante da Orquestra dos Médicos do Recife e também participa do projeto IMIP Cultural, presenteando, há 10 anos, os pacientes do Instituto de Medicina com seus acordes diversos.

A gravação do seu primeiro disco, o homônimo Cláudio Almeida, que completa 20 anos neste ano, já revelava o estilo eclético e as variadas referências da música popular incorporadas pelo músico, mesclando faixas entre forró, jazz e bossa-nova. O seu segundo CD, Alma Pernambucana (2003), mantém a diversidade de ritmos do cancioneiro e celebra a cultura de Pernambuco sem poupar homenagens. A partir desses dois trabalhos, somados a algumas canções gravadas entre 1979 e 2013 e nunca lançadas, surge novo disco Despretensioso.

Assim, as 15 canções escolhidas para a coletânea visam contemplar um pouco de cada um desses elementos musicais do instrumentista, assim como suas vivências, raízes, lembranças e afetividades. Do primeiro CD, quatro canções são escolhidas, entre elas algumas referências à cidade de nascimento do músico, o município de Pesqueira: o caboclinho instrumental Ororubá tem arranjos do Maestro Duda e presta uma homenagem à Serra do Ororubá, onde vivem os índios xukurus; enquanto o maracatu Leme, com a rabeca de Maciel Salu, é tema da tradicional agremiação Cambindas Velhas, fundada em 1909 na cidade.

Do segundo disco, a faixa Ariano, composta na década de 1990, homenageia com bandolins o ensaísta e poeta Ariano Suassuna. Já Despretensioso, o choro que dá nome à coletânea, mistura as sonoridades da flauta, clarinete e oboé. Entre as quatro inéditas, Pedra d’água tem o violoncelo de Fabiano Menezes e a participação do sax de Maestro Spok. Ela se junta ao jazz de Pelas madrugadas e à canção David Davida, uma singela homenagem ao morador de rua do Recife David Wilibaldo, amante da música erudita. Celebrativa e eclética, a coletânea Despretensioso está encartada nesta edição da Continente e revela, ao mesmo tempo, a simplicidade de Cláudio Almeida e a diversidade rítmica de suas cordas.

PAULA MASCARENHAS é graduada em Letras pela UFBA, estudante de Jornalismo pela UFPE e estagiária da Continente.

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