Curtas

Discobiografia Mutante

Livro revela a história dos discos d'Os Mutantes sem deixar de fora as polêmicas e a irreverência de uma das principais bandas de rock brasileiras

TEXTO Paula Mascarenhas

01 de Outubro de 2018

A jornalista fluminense Chris Fuscaldo pesquisou a discografia d’Os Mutantes

A jornalista fluminense Chris Fuscaldo pesquisou a discografia d’Os Mutantes

Foto Tatynne Lauria / Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 214 | outubro 2018]

Há exatos
50 anos, a mítica banda Os Mutantes lançava seu primeiro disco. O LP homônimo, composto por 11 faixas nos lados A e B, revolucionou a música popular do país com seu rock psicodélico misturado às brasilidades. No álbum de 1968, os tropicalistas Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias uniram guitarras distorcidas com samba, baião e ritmos do candomblé em canções como Panis et circenses (composta pelos padrinhos da banda Gilberto Gil e Caetano Veloso), Minha menina (de outro tropicalista, Jorge Ben Jor) e O relógio (pop rock psicodélico escrito pelo trio).

Aproveitando para celebrar o cinquentenário do disco da banda, a jornalista fluminense Chris Fuscaldo lança o Discobiografia Mutante – Álbuns que revolucionaram a música brasileira (Garota FM, 2018). Em edição bilíngue, o livro apresenta extensa pesquisa sobre os 15 álbuns produzidos pelos Mutantes. Não apenas são contadas histórias inéditas (e polêmicas) da carreira do grupo, como também são revelados detalhes de suas apresentações em programas de TV e em turnês, os aspectos técnicos das gravações em estúdio, as artes das capas dos discos e o relacionamento entre os integrantes e seus parceiros musicais, como Cláudio César, considerado o quarto mutante, e o maestro Rogério Duprat.

Apesar da censura ditatorial dos anos 1960-70, os Mutantes participaram intensamente de um dos mais efervescentes movimentos de contracultura brasileiros, sendo até hoje uma referência de inovação e experimentação sonoras.

O Discobiografia mutante foi publicado através de um projeto de financiamento coletivo na internet realizado este ano pela autora, que desejava produzir o livro do seu jeito e com a participação de colaboradores que já a acompanhavam em outros trabalhos – sempre relacionados ao universo musical. Sua múltipla trajetória como cantora, pesquisadora, assessora de artistas e repórter revela sua intimidade com música. Entre produções escritas e sonoras, Fuscaldo lançou, em 2016, o Discobiografia legionária (Leya, 2016), livro sobre as gravações dos álbuns da banda Legião Urbana. Hoje, além publicar a Discobiografia Mutante, ela está finalizando a biografia do cantor e compositor paraibano Zé Ramalho, que espera lançar em 2019.



Declaradamente fã do grupo, a autora conta que Os Mutantes sempre fizeram parte de sua vivência musical e profissional. “É a minha banda nacional favorita. Como eu também adoro os Rolling Stones, acho que Os Mutantes conseguem misturar minhas grandes paixões e referências musicais: o rock e a música brasileira”, afirma Chris Fuscaldo à Continente.

Embora já tenha feito, em 2002, um estudo sobre a linguagem das capas de disco do grupo como sua monografia no curso de Jornalismo, o seu interesse pelo trio começou antes. A descoberta da banda durante a adolescência, no final dos anos 1990, foi concomitante à escuta do rock e de artistas da música brasileira, como Caetano Veloso.

O marco foi ter ganhado de presente a coletânea Everything is possible! – World Psychedelic Classics 1: Brazil: The best of Os Mutantes, produzida pelo músico americano David Byrne, que compilou 14 músicas gravadas pela banda entre 1968 e 1972. Sucessos como Ando meio desligado, Baby e Bat Macumba não só conquistaram o mercado underground norte-americano, como também não saíram mais do toca-discos da jornalista, que se tornou colecionadora de vários discos originais e reedições.

Assim, sem perder de vista a comemoração de meio século da gravação do primeiro disco, ela lançou mão de pesquisas e entrevistas realizadas com artistas e os próprios fundadores d’Os Mutantes, revelando na obra que a irreverência e a necessidade de inovação musical da banda era um sentimento intrínseco aos seus integrantes, que ousavam esteticamente tanto na criação de instrumentos e nos arranjos musicais, como na criação das capas dos discos. A hibridação entre os diversos ritmos e estilos musicais e o rock psicodélico e progressivo foi e é uma das maiores marcas do grupo.

Discobiografia mutante já foi lançado em cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e está à venda no site da jornalista (http://chrisfuscaldo.com.br/discobiografia-mutante/). O livro torna-se uma obra essencial não apenas para conhecer detalhes da carreira de uma das principais bandas de rock’n’roll brasileiras, mas sobretudo para refletir sobre a produção sonora do país desde as intensas transformações culturais até os enfrentamentos do atual mercado fonográfico brasileiro.

PAULA MASCARENHAS é graduada em Letras pela UFBA, estudante de Jornalismo pela UFPE e estagiária da Continente.

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