Curtas

O filme da minha vida

Novo trabalho de Selton Mello como diretor estreia nos cinemas brasileiros

TEXTO Sofia Lucchesi

03 de Agosto de 2017

O filme é narrado pelo jovem Tony Terranova, interpretado pelo ator Johnny Massaro. Ao fundo, Selton Mello, que também atua no filme

O filme é narrado pelo jovem Tony Terranova, interpretado pelo ator Johnny Massaro. Ao fundo, Selton Mello, que também atua no filme

Foto Divulgação

Depois de O palhaço (2011), filme escolhido como representante brasileiro na 85º edição do Oscar, Selton Mello retorna como diretor no longa-metragem O filme da minha vida. O roteiro, de Mello e Marcelo Vindicatto, é uma adaptação do livro Um pai de cinema, do chileno Antonio Skármeta – autor de O carteiro e o poeta, livro que também ganhou adaptação cinematográfica pelo olhar de Michael Radford, numa produção italiana lançada em 1994, que chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O longa tem estreia nesta quinta-feira (3/8).

Ambientado nos anos 1960, numa cidade interiorana fictícia no Sul do Brasil, o filme é narrado pelo jovem Tony Terranova (Johnny Massaro), que, ao retornar da capital após uma viagem de estudos, tem a notícia de que seu pai, Nicolas – interpretado por Vincent Cassel (À deriva, Cisne negro)–, está a caminho de Paris, sua cidade natal, sem explicações. E assim a situação permanece durante dois anos, com Johnny e sua mãe sem nenhuma notícia.

A trama que envolve o filme é a perda do pai, a saudade e sentimento de indignação de Tony pela falta de respostas sobre sua ausência, junto aos conflitos próprios da juventude do personagem: descobertas amorosas e sexuais, o início da chegada à vida adulta, sua relação com Luna (Bruna Linzmeyer) e a atração que sente pela irmã mais velha de Luna, Petra (Bia Arantes). Há, ainda, a figura de um vizinho e amigo da família, Paco, interpretado pela próprio diretor, que é como um amigo e também uma figura paterna para o jovem.

Apesar de se passar nos anos 1950, é uma obra contemporânea, e poderia se aproximar mais do público se não repetisse alguns clichês do cinema e da televisão, como a romantização da primeira vez de um garoto no bordel. Outro momento em que a história parece se distanciar do atual é quando Tony observa as irmãs fazerem uma coreografia na escola em que ele trabalha como professor de francês, imaginando como se dançassem exclusivamente para ele – a câmera se aproxima dos rostos das atrizes, com expressões sensuais.

A fotografia, assinada por Walter Carvalho, possui uma linguagem estética que realça a beleza das paisagens e o rostos dos atores. Segundo Mello, a fotografia foi usada como um recurso para ressaltar certo aspecto onírico no filme: “O cinema tem ferramentas que me permitem exrcerbar essa sensação onírica, que é parte do livro de Skármeta. É como se o filme todo fosse um grande sonho”, disse em entrevista coletiva no Recife, durante pré-estreia do filme no último sábado (29/7). Porém, há uma certa sensação de vazio em meio a tanta beleza, especialmente no início do filme. A narrativa ganha mais força quando intensifica o conflito familiar, já em seu segundo ponto de virada. Os dois pontos de virada do filme, aliás, acontecem dentro de cinema. Nesse sentido, é também uma homenagem à própria linguagem. “Cinema é um ‘troço’ escuro que você fica lá dentro vendo a vida dos outros, ao invés de cuidar da sua, e perde duas horas da vida”, diz o personagem de Selton Mello em uma das cenas.

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