Curtas

Quebra-cabeça

A 'big band' instrumental Bixiga 70 lança o primeiro disco com um nome próprio – os três primeiros apenas eram numerados

TEXTO Erika Muniz

01 de Agosto de 2018

Banda é formada por Cuca Ferreira, Décio 7, Rômulo Nardes, Cris Scabello, Maurício Fleury, Marcelo Dworecki, Douglas Antunes, Daniel Gralha e Daniel Nogueira

Banda é formada por Cuca Ferreira, Décio 7, Rômulo Nardes, Cris Scabello, Maurício Fleury, Marcelo Dworecki, Douglas Antunes, Daniel Gralha e Daniel Nogueira

Foto José de Holanda / Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 213 | setembro 2018]

Uma música completamente transnacional, mas completamente brasileira.” Assim, define o crítico musical Jon Pareles a sonoridade da Bixiga 70, em sua coluna no The New York Times. As apresentações da big band instrumental costumam ser marcantes, conseguem envolver e agitar o público do início ao fim, sem precisar dizer uma palavra. São nove anos de estrada, vários países percorridos, festivais e quatro álbuns.

O mais recente Quebra-cabeça (Deck) é o primeiro a ser batizado com um nome próprio (os três primeiros apenas eram numerados). “A gente quis dar um nome, dessa vez, porque realmente está diferente”, explica o saxofonista Cuca Ferreira, a respeito de algumas mudanças, que vão desde processos de composição ao convite de Gustavo Lenza para a produção musical. Por outro lado, também há permanências. Visto que a identidade visual da belíssima capa, mais uma vez, é obra do artista paulistano MZK.

“Quebra-cabeça é como o enxergamos, essa coisa de ter influências juntas e ao mesmo tempo isoladas. Uma imagem única. Achamos a analogia muito boa, pois traduziu muito bem visualmente”, afirma o musicista, que compõe o grupo com Décio 7, Rômulo Nardes, Cris Scabello, Maurício Fleury, Marcelo Dworecki, Douglas Antunes, Daniel Gralha, Daniel Nogueira. Apesar dos nove integrantes convergirem no gosto por ritmos de países da África – principalmente no afrobeat do nigeriano Fela Kuti –, inúmeras influências são trazidas na hora de compor. Desta vez, a amálgama não foi diferente. “Tem os que trazem mais do reggae, do dub, músicas do candomblé, o jazz, entre outros. Na hora de criar, cada um dá suas ideias e isso acaba misturando muita coisa”, explica Cuca.

Desde o início, as composições do Bixiga 70 costumam acontecer conjuntamente, de forma muito orgânica. Nesse novo trabalho, isso se potencializa ainda mais. As gravações foram realizadas no Estúdio Traquitana, em São Paulo, mas o processo teve suas peculiaridades, como explica o instrumentista: “Antes, a gente gravava ao vivo, tocando todos juntos. Em Quebra-cabeça, a gente gravou separadamente e usou bem mais os recursos do estúdio, mais bases e sopros”. De fato, os ouvidos familiarizados com os outros três discos vão observar mais camadas de som nesse material mais recente.

O disco traz como protagonistas o bairro do Bixiga – local em que a banda tirou seus primeiros sons –, e o dançarino Jimmy The Dancer, ícone da cena paulistana (o clipe da faixa-título já está disponível no Youtube – veja abaixo). Desde o início, Jimmy costuma acompanhar, com muita dança diga-se de passagem, as apresentações.“É um grande amigo nosso. A gente achou que seria importante prestar essa homenagem. O clipe é uma metáfora do que é a vida dele. Assim como no vídeo, ele tem essa capacidade de ir transformando tudo por onde passa”, afirma Cuca. Não é a primeira vez que a parceria acontece, no Bixiga 70 III (2015), a música Di Dancer já havia sido criada em sua homenagem. As 11 faixas inédias de Quebra-cabeça estão disponíveis nas plataformas de streaming.

ERIKA MUNIZ é graduada em Letras pela UFPE e estudante de Jornalismo. 

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