Curtas

Tom Zé e Ave Sangria em noite inédita

O baiano de Irará se apresenta no Recife após uma excursão no Japão. Os pernambucanos aproveitam o show para lançar seu novo álbum, 'Vendavais', em vinil

TEXTO Leonardo Vila Nova

04 de Dezembro de 2019

O compositor e cantor Tom Zé vem ao Recife depois de excursão pelo Japão

O compositor e cantor Tom Zé vem ao Recife depois de excursão pelo Japão

Foto André Conti/Divulgação

Juventude não tem idade. Pelo menos, não biológica. Que (bem) o digam Tom Zé e Ave Sangria, que dividirão a noite deste sábado (7/12) no Baile Perfumado, bairro do Prado. Ambos chegam ao Recife com a energia renovada e têm um encontro marcado com os seus: a juventude que vem, ao mesmo tempo, acolhendo e venerando seus recentes trabalhos e suas obras como um todo; obras que há décadas inspiram e influenciam gerações. Quem também se apresenta na noite é a novata Mulungu, grupo “recifense-natalense” que vem dando seus primeiros passos. O espaço abre as portas às 21h e os ingressos estão à venda no sympla.

“Eu sofro de juventude, essa coisa maldita”, já cantou Tom Zé em seu disco Hips of tradition (1992), que, de certa forma, representa o seu renascimento para o mundo artístico, quando contou com a mãozinha de David Byrne e passou a rodar mundo afora com sua música irrotulável. De fato, o iraraense Antônio José Santana Martins é um jovem de 83 anos, dada a inquietude pueril que transborda em seus discos e no palco. Mesmo tendo passado por um cateterismo de urgência, em agosto deste ano, o erê que há no baiano não se abalou e, pós-recuperação, foi mostrar seu som aos japoneses, pela primeira vez, com show em Tóquio. O Recife é a primeira capital brasileira que o recebe após esse “update”.

Tom Zé apelidou a apresentação de sábado de “Recife Perfumado”, numa referência à casa de shows que o recebe. Na “convocação” ao público, ele diz: “Show perfumado tem pelo menos de levar sabonetes, escovas, espumas, talco, essências. Então eu vou preparar minhas canções mais cheirosas e saiticas pra salpicar uma chuva de alegrias ritmadas e fogosas. Nessa que é uma cidade de renascimento meu, nesse Recife amado”. Tom Zé virá acompanhado de sua banda: Jarbas Mariz (vocais, viola e percussão), Daniel Maia (guitarra e vocais), Cristina Carneiro (teclados e vocais), Felipe Alves (baixo e vocais) e Fábio Alves (bateria).

O repertório de Tom Zé rende para vários shows, o que lhe dá a possibilidade de montar o set list momentos antes da apresentação, conforme o clima do dia e todo o contexto que envolve a cidade onde se apresenta – os fatos do cotidiano influenciam na sua performance e lhe incitam a uma comunicação direta e descontraída com o público. Mas, certamente, as faixas clássicas estarão lá, na ponta da língua: Augusta, Angélica e Consolação, Parque industrial, Jimi renda-se/Moeda falsa, Todos os olhos, Ogodô ano 2000, Nave Maria e tantas outras.

UDIGRÚDI
Os outros "jovens veteranos" que marcam presença no Baile Perfumado são os músicos da banda pernambucana Ave Sangria. Este será o primeiro show deles na cidade após o lançamento de Vendavais, seu mais recente álbum, lançado 45 anos após o disco de estreia, de 1974. E, aproveitando o ensejo de tocar em casa, o grupo lança Vendavais em vinil, fruto de uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo.

O som da Ave Sangria, que foi uma das pioneiras do underground pernambucano, o “Udigrúdi”, conecta o rock'n'roll com elementos da música nordestina. Da formação original, reúnem-se Marco Polo (voz), Almir de Oliveira (voz, guitarra e violão) e Paulo Rafael (guitarra e viola). Completando o time, a nova geração (que teve influência da banda e ainda se alimenta do que ela significa) vem representada por Juliano Holanda (baixo e vocais), Gilú Amaral (percussões) e Júnior Do Jarro (bateria e vocais).


Marco Polo, Almir de Oliveira e  Paulo Rafael mantiveram a
essência da Ave Sangria mesmo após 45 anos de pausa.
Foto: Flora Negri/Divulgação

No show, serão apresentadas as músicas de Vendavais e algumas das canções que marcaram a trajetória da banda – interrompida, ainda alçando voo, nos anos 1970 e retomada em 2014: Georgia, a carniceira, Lá fora, Cidade grande, Hey man e Seu Waldir são algumas daquelas que assinalaram o cancioneiro udigrúdi e transformaram a banda em uma lenda viva do rock pernambucano. “Nosso show ondula por uma dinâmica intensa, iniciando com músicas de impacto, passando para as líricas, evoluindo para as mais dançantes e partindo para a pauleira final, onde a integração entre músicos e público torna-se completa”, diz Marco Polo, no release do evento.

NOVATA
Mulungu é o nome da banda que reúne Jáder (Projeto Sal), Guilherme Assis (Barro) e Ian Medeiros (Mahmed). Os dois primeiros, pernambucanos; o terceiro, potiguar. A estreia do grupo foi em setembro último, em Natal (RN). Além da responsabilidade que é estar entre duas atrações de grande peso, os meninos estabeleceram para si a missão de, a partir de um “laboratório artístico”, criar músicas que estabeleçam uma conexão com o público que vai além dos ouvidos, sinestésica.

Mulungu promete para maio de 2020 o lançamento do seu primeiro álbum. Enquanto isso, é aproveitar para dar uma sacada no Baile Perfumado.


Mulungu é a banda novata da noite, formada por dois pernambucanos e um potiguar. Foto: Divulgação

LEONARDO VILA NOVA, jornalista e músico.

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