Curtas

Tomie Ohtake

Mostra na Caixa Cultural Recife reúne gravuras, esculturas e pinturas da artista

TEXTO Erika Muniz

25 de Setembro de 2017

Mais de 40 obras da artista compõem

Mais de 40 obras da artista compõem "Tomie Ohtake - Cor e corpo" na Caixa Cultural

Foto Anderson Freire

Um dos maiores nomes da arte abstrata no Brasil, chega ao Recife com a exposição Tomie Ohtake - Cor e corpo na Caixa Cultural Recife. Na mostra, percebemos o recorte de uma vasta obra – afinal, são mais de 60 anos de produção contínua – em que a cor, forma e o material não se dissociam. São 40 gravuras (entre litografias, serigrafias e figuras em metal), cinco pinturas e três esculturas dispostas ao longo do salão de entrada da construção datada do início do século XX. A curadoria é assinada por Carolina De Angelis e Paulo Miyada, que destaca a versatilidade da artista. A visitação, que tem entrada franca, permanece aberta até o dia 19 de novembro, podendo ser feita sempre das 10h às 20h, de terça a sábado, e das 10h às 17h, aos domingos.

Nascida em Kyoto, em novembro de 1913, Tomie tinha uma família tradicional. Ao Brasil só chegou em 1936 para visitar um de seus irmãos, Matsumaro Nakakubo. No entanto, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o que duraria um ano acabou ganhando permanência. Mulher, mãe e artista num contexto de bastante preconceito, tanto no Brasil, quanto no seu país de origem. Uma das curiosidades é que só começou a pintar a partir da década de 1950. E a partir daí, seguiu incansavelmente. “Desde pequena, eu gosto de desenhar. Mas como eu casei e tive dois filhos, deixei o que gosto de lado e me dediquei só para cuidar da família”, diz Ohtake no documentário realizado por Helio Goldsztijn para a TV Cultura. Nos primeiros anos em que chegou à cidade de São Paulo, escolheu residir numa casa no bairro industrial da Mooca, naquela época em que "as crianças brincavam na rua", ela pintava na sala de jantar.

A artista preferia não colocar título em suas obras como forma de possibilitar as diversas leituras

“Eu procuro primeiro a forma. Forma acho que tem formação de pessoas”, explica Tomie em outro trecho do filme e de fato, em Tomie Ohtake - Cor e corpo podemos observar o quanto a forma, mas também as cores são marcantes na obra dela. Dentre as colorações utilizadas pela artista, chama a atenção o uso de diferentes tons de cor-de-rosa e lilás por não ser comum na arte abstrata. Outro ponto é o amarelo, que segundo a artista, quando chegou ao Brasil “tudo tinha sabor de amarelo”. Ele é encontrado ao longo de várias obras selecionadas na mostra, principalmente nas litografias. 

Feitas à mão, as pinturas têm uma espécie de "geometria sensível", não perfeitamente apresentadas, mas que demonstram toda a dedicação e disciplina da artista.  Isso porque, como explica o crítico de arte Agnaldo Faria sobre as produções de Ohtake, em suas obras “a geometria tende a um certo tremor, uma certa vibração”. 

Na entrada da Caixa Cultural Recife, mais à esquerda da entrada, o espectador pode observar a disposição de três telas grandes que, colocadas uma ao lado da outra, mesmo que datando de anos diferentes (1992, 1993 e 2009), remetem possivelmente a diferentes estágios da existência humana, como a fecundação, gestação e o ciclo da vida após o nascimento. Mas as três também trazem uma alusão ao universo em sua perspectiva cósmica. Cada uma feita com procedimentos, cores e movimentos particulares, compartilham um apelo sensual ao olhar em toda a exposição. Uma das escolhas da artista, que são compartilhadas na mostra, é a de deixar as produções “Sem Título”, o que acaba por estimular as leituras individuais de cada um dos espectadores. Falar das obras de Tomie é compartilhar experiências a partir do olhar de cada um, das cores utilizadas, não se referir a partir títulos. 


Sem Título, 2013. Tubo de aço de carbono com epóxi. 170x110x110cm

As esculturas brancas, outro grande momento da exposição, têm formatos tubulares e estão organizadas ao longo do salão. Elas se equilibram no solo como se estivessem suspensas. “Equilíbrio é muito estável. Acho muito interessante o desequilíbrio”, chegou a afirmar Tomie, em trecho do documentário de Goldsztejn. A partir de torções, dobras e voltas realizadas previamente pelas mãos da própria artista em pequena escala, foram depois transplantadas da maneira mais fiel possível em dimensões maiores. Aroximar-se de obras de Tomie, como bem afirma o professor da PUC-SP Miguel Chaia, é “permite pensar a natureza em seu sentido geral, seja a mínima da vida biológica, do mar, ou a um mundo inteiro”.

Serviço
Esposição Tomie Ohtake - Cor e Corpo
Caixa Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife), de terça a sábado, das 10h às 20h; domingos, das 10h às 17h.
A visitação segue aberta até 19 de novembro
Entrada gratuita
Classificação Indicativa: Livre
Informações: (81) 3425-1915

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