Curtas

Um real, um real, um real

Exposição em comemoração aos 40 anos do Museu do Homem do Nordeste cria um arco histórico que simboliza a importância dos camelôs para a região

TEXTO Samanta Lira

20 de Julho de 2018

Imagem da coleção 'Nordestes emergentes' explora visão contemporânea da região

Imagem da coleção 'Nordestes emergentes' explora visão contemporânea da região

FOTO Iatã Cannabrava/Divulgação

O homem que vende vassouras, o que conserta panelas, e o que, usando uma boina, está acompanhado de um periquito verde que tira a sorte. A tradição popular caminhou junto ao progresso, adaptando-se aos tempos modernos. "Um real, um real, um real", expressão tão conhecida pelos nordestinos, comumente utilizada por trabalhadores informais, dá nome à exposição que celebra os 40 anos do Museu do Homem do Nordeste (Muhne). Com curadoria da antropóloga Ciema Mello, a mostra também integra as comemorações pelos 70 anos da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e tem abertura neste sábado (21/7), dando início a uma programação especial com duração de um ano.

Para criar um ambiente de imersão na cultura dos ambulantes ou camelôs, além de mensurar a importância do trabalho informal para a região (e também para o país), foram articulados objetos que fazem parte desse universo, junto a fotografias das décadas de 1960 e 1970 e dos dias atuais. Cataventos, bambolês, bolas coloridas, entre outros itens próprios do comércio popular, misturam-se a raridades, como um tabuleiro de doce japonês e uma máquina fotográfica de lambe-lambe.


Imagem da coleção Wilson Caneiro da Cunha

As peças integram o acervo do museu e remetem a uma exposição dos anos 1980, realizada pelo próprio Muhne com o mesmo nome (mas na época a moeda não era o real). A atualização da mostra conta com uma releitura contemporânea baseada na tese Aventura do comércio informal no Recife, de Maria Pedrosa de Araújo, pesquisadora da casa. A curadoria complementa o espaço expositivo com duas coleções fotográficas, compostas por imagens de Wilson Carneiro da Cunha, Rogério Reis, Fernanda Chemale, André Dusek, Iatã Cannabrava, Paula Sampaio e Gleide Selma.

Cenas do cotidiano do trabalho informal no Recife do passado, em preto e branco, criam um contraste junto ao colorido das cenas de hoje em dia, representadas pelas imagens da coleção Nordestes emergentes. As fotos são costuradas aos objetos numa estética que faz referência aos mostruários de rua e revelam, ainda, uma perceptível relação entre o passado e o presente: o camelô é o que mais vende produtos característicos dos tempos tecnológicos – como uma capinha de smartphone da última geração –, mas é também o que ainda vende a tradicional vassoura de piaçava.

O Muhne entende que a relevância em retratar esse tema está não apenas em trasmitir uma concepção plural da cultura nordestina, mas também na educação de um olhar que valoriza o trabalho informal numa perspectiva econômica e sociológica. Num país que possui altíssima taxa de desemprego, os sujeitos que sobrevivem a esse cenário de adversidade são verdadeiros heróis e criadores de uma cultura rica e particular.

A exposição segue em cartaz até abril do ano que vem. Confira mais informações aqui.

SAMANTA LIRA é estudante de Jornalismo da Unicap e estagiária da Continente.

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