Exu, o abre alas
Imagens especiais de um carnaval carioca realizado em pleno outono, sob as bênçãos do orixá que foi enredo da escola de samba campeã, a Grande Rio
TEXTO E FOTOS GUY VELOSO
29 de Abril de 2022
Foto Guy Veloso
[conteúdo exclusivo Continente Online]
“Boa noite moça, boa noite moço” – assim Zé Pilintra, entidade da linha de Exu na Umbanda, cumprimenta a assistência em um ponto cantado bastante conhecido. A mesma frase abre o samba da Grande Rio, escola campeã do carnaval carioca, que, em 2022, trouxe Exu – orixá tão incompreendido dos cultos afro-brasileiros – como enredo.
Em um ano repleto de referências a religiões de matriz africana, tive o privilégio de documentar as interpretações dos carnavalescos do Rio de Janeiro a esse tema que me é tão querido – e que fotografo há 10 anos.
No Candomblé Iroco é o Senhor do Tempo. Ele quem programou o Carnaval em pleno outono, dois anos e dois meses após o último festejo. E durante essa espera, todos nós tivemos muitas perdas, decerto. O choro da porta-bandeira da Portela, Rosilaine Queiroz (neste ensaio retratada), é exemplo disso. Ele nos lembra que prateamos nossos mortos, sim, mas também festejamos estarmos vivos. Uma dicotomia que oxalá um dia entendamos. Um tempo que jamais esqueceremos. Orixá Iroco sabe o que faz.
Trago aqui quatro noites de desfiles, dois do “Grupo de Ouro” (como a segunda divisão dos campeonatos de futebol) e dois do “Especial”. Também, a comemoração na quadra da Grande Rio em Caxias, cidade da baixada fluminense. Fugindo das pautas mais comuns, busquei os bastidores, a dita “concentração”, local que antecede a entrada – triunfal – na avenida do samba, a Marquês de Sapucaí, na capital fluminense.
Em uma época de intensa intolerância religiosa em um país que se afunda em um desgoverno, a Grande Rio (entre outras escolas de samba) trazem não só um libelo pela paz, mas um campo para discursões sobre “a realidade ‘do outro’ e em como esta espiritualidade pode afetar a minha?”. Falar sobre isso é urgente!
GUY VELOSO, fotógrafo e artista. Nasceu e trabalha em Belém (PA). Participou da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e da 4th Biennial of the Americas, em Denver, nos Estados Unidos (2017). Foi curador geral de fotografia contemporânea na 23ª Bienal Europalia, em Bruxelas, na Bélgica (2011). Compõe acervos importantes, como Essex Collection of Art from Latin America, Coleção Nacional de Fotografia, Abarca Family Collection, Pirelli-MASP-Museu de Arte de São Paulo, entre outros. Instagram: @guyveloso
Confira o ensaio a seguir: